A Câmara Municipal de Vitória da Conquista (CMVC) realizou na noite de terça-feira (25) uma audiência pública para debater o tema “A importância e os desafios da igreja em tempos de pandemia”. A audiência foi proposta pelo vereador Adinilson Pereira (MDB) e aconteceu pelo Sistema de Deliberação Remota (SDR), com transmissão pelos canais digitais da Casa.
Adinilson abriu a audiência pedindo que o colega Orlando Filho (PRTB) fizesse uma oração. O proponente agradeceu a participação de todos e destacou que a Câmara aprovou o Projeto de Lei, de sua autoria, que originou a
Lei Nº 2.465/2021, a qual estabelece igrejas e templos de qualquer denominação como atividade essencial em períodos de calamidade pública em Vitória da Conquista. Adinilson ainda agradeceu aos colegas Orlando Filho e Nelson de Vivi (DEM), que subscreveram o projeto. Ele também ressaltou sua recuperação da Covid-19 e agradeceu aos votos de melhora.
Vereadores destacam importância da audiência – Fernando Jacaré (PT) destacou que problemas envolvendo saúde mental é um dos impactos da pandemia. Ele avalia que as igrejas são essenciais para o bem estar das pessoas, especialmente em momentos de grande pressão como uma crise sanitária. Além disso, Jacaré destacou que as igrejas cumprem papel social por meio de projetos sociais.
Nildo Freitas (PSC) afirmou que as igrejas são essenciais para o atendimento às famílias. Ele lembrou de reunião entre a prefeita Sheila Lemos (DEM) e uma comissão de pastores e vereadores, entre eles o presidente da Casa, Luís Carlos Dudé (MDB), e o próprio Nildo, na qual os pastores pediam a flexibilização do horário de funcionamento para as igrejas, diante das restrições por conta da pandemia. Além de relaxar o horário, a gestora também sancionou a lei proposta por Adinilson. Nildo lamentou que 476 igrejas foram fechadas ou mudaram de endereço durante a pandemia e frisou que muitos líderes religiosos não conseguiram cumprir os compromissos financeiros de suas congregações.
Orlando Filho afirmou que o momento é para a igreja “se despertar” para o seu propósito no seio da sociedade. Para ele, não é tempo de conflitos, e sim de cura, abraço e caridade. O vereador falou que os cristãos devem demonstrar uma fé justificada perante a humanidade por meio de obras, especialmente àquelas que ajudam os mais necessitados. Orlando, que também é pastor, defendeu as igrejas como atividade essencial e frisou que a essencialidade está também no coração de cada um.
Igrejas desempenham papel social – O deputado federal Alex Santana (PDT-Ba) lamentou que parcelas do Executivo e do Judiciário não reconheçam a essencialidade das igrejas. Para ele, são autoridades que possuem a compreensão do funcionamento de uma igreja e de seu papel na sociedade. O deputado destacou que as igrejas levam socorro espiritual e também material, pois mantém ações de doação de alimentos e medicamentos, por exemplo. Ele também frisou que a Constituição Federal garante que os templos são invioláveis e afirmou que as comunidades religiosas não defendem a abertura dos templos para “arrecadar dinheiro”, mas assistir socialmente, espiritualmente e psicologicamente as pessoas.
Igrejas chegam onde o Estado está ausente – O deputado estadual Samuel Júnior (PSC) afirmou que as igrejas levam “esperanças às pessoas”, vão onde o Estado não consegue chegar. O parlamentar também falou do trabalho de recuperação de pessoas que tiveram problemas com drogas, álcool, criminalidade. As igrejas estariam ajudando o Estado, já que esses problemas geram custos para os governos. Samuel também destacou que as igrejas levam uma palavra de conforto num momento em que as pessoas estão mais fragilizadas por conta da pandemia.
Igrejas estiveram presentes nos momentos históricos críticos – O pastor Josué Júnior detalhou que a pandemia trouxe um “novo normal” de atuação para as igrejas, como o uso do meio digital para se conectar com os fiéis. Ele lembrou que ao longo da história, a igreja “sempre foi uma resposta aos momentos de crise”, como na peste negra, no século XIV. “A igreja tem uma importância”, falou e acrescentou: “não está fadada a um momento de culto”. O pastor afirmou que a igreja “é a porta de Deus aberta” para onde as pessoas correm em tempos de angústia e seu funcionamento não pode ser cerceado em momento algum.
Lei garante abertura, mas cobra respeito às medidas sanitárias – O advogado Ramon Lélis defendeu mais diálogo e ações de educação sobre o papel da igreja na sociedade. Segundo ele, a legislação não proíbe a abertura dos templos, mas exige o cumprimento das medidas protetivas. O advogado ressaltou a situação da UPA, na qual pacientes com Covid-19 estariam em contato com outros pacientes, potencializando as chances de contaminação. Ele lamentou que algumas igrejas desrespeitaram os decretos governamentais de combate ao vírus. Para ele, essas congregações devem sofrer o peso da lei. Ramon ressaltou que “não é o caso de Vitória da Conquista que tem cumprido todas as regras”.
ACEBADEVIC distribuiu mais de 10 toneladas de alimentos – O pastor Davi Boa Sorte frisou que dirige igrejas há mais de 30 anos. Ele afirmou que as igrejas tiveram que se reformular em tempos pandêmicos. Davi explicou que sua congregação tem feito cultos online e presenciais, nos quais ele usa máscara e orienta seus fiéis a tomarem todos os cuidados para prevenir a Covid-19. O pastor também ressaltou o trabalho social das igrejas. Segundo Davi, a Associação Beneficente da Igreja Assembleia de Deus em Vitória da Conquista (ACEBADEVIC) já distribuiu mais de 10 toneladas de alimentos e produtos de higiene durante a pandemia.
Igreja permanece em oração diante da pandemia – O Diácono Zezinho justificou a ausência de Dom Josafá. O arcebispo de Vitória da Conquista conduzia uma reunião no mesmo horário da audiência. Diácono Zezinho afirmou que “Deus age no meio das nossas dores”. Segundo ele, a igreja leva uma mensagem de esperança para a humanidade num momento tão difícil, sem deixar de seguir todas as regras sanitárias. Zezinho lembrou de uma cena que considera icônica: o Papa Francisco rezando sozinho diante da Praça São Pedro vazia, uma demonstração de que a Igreja permanece em oração mesmo tendo que fazer adaptações por conta da pandemia.
O Diácono afirmou que as mãos dos cristãos devem estar estendidas para o céu, mas também devem estar estendidas para os necessitados, no exercício da caridade. Zezinho destacou projetos sociais como a Cotefave e a Comunidade Anuncia-Me. Em sua fala, agradeceu as orações por sua recuperação da Covid-19 e disse que passou por um “grande retiro espiritual” durante a doença.
Pandemia aumenta estresse – A psicóloga Mônica Pereira afirmou que o indivíduo é corpo e alma e que as questões desta são respondidas pela espiritualidade. Ela destacou que a pandemia é um momento de grande estresse, no qual a igreja se faz presente, como um espaço de acolhimento. Mônica disse que 20% da população é acometida por depressão e ansiedade. A psicóloga defendeu o uso do mindfulness, técnica de atenção plena que pode ajudar a diminuir o estresse. Mônica também advertiu que os pastores, àqueles que acolhem outras pessoas, também devem se cuidar.
O pastor Fábio Vasco disse que passou a usar mais as redes sociais por conta da pandemia e tem recebido retorno até mesmo de pessoas de outros estados. Ele afirmou que com a transmissão do culto pela Internet, muitas pessoas passaram a acompanhar a congregação. Para o pastor, o trabalho social é importante, mas a presença da igreja na vida das pessoas é o mais importante porque leva esperança.