O Brasil quer aproveitar a experiência acumulada na organização da Copa do Mundo de 2014 e da Copa América de 2019 para receber outras grandes competições internacionais de futebol. Em outubro, o País terá o Mundial Sub-17 e ainda concorre para ser a sede nos próximos anos do Mundial Sub-20 (2021) e o Mundial Feminino (2023).
A candidatura para os eventos organizados pela Fifa faz parte de uma estratégia definida pela CBF para manter o prestígio internacional do Brasil como anfitrião, aproveitando a expertise que adquiriu nos torneios anteriores. “Não é de hoje que o futebol move os brasileiros e desperta seus sonhos. Mais do que isso, é um importante componente da nossa economia. Por isso, vamos nos candidatar a todos os grandes eventos disponíveis do futebol. A Fifa tem absoluta confiança na nossa capacidade operacional e a prova foi a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo Sub-17”, afirmou Rogério Caboclo no antes de ser confirmado como presidente da entidade que dirige o futebol brasileiro.
Segundo um porta-voz da Fifa em contato com o Estado, a experiência adquirida pelo País formou um aprendizado importante e valorizado na hora de definir qual será o destino das próximas competições.
Para o professor de marketing esportivo da ESPM Ivan Martinho, o aprendizado possibilitou o surgimento de empresas e profissionais especializados. “Em um país que já recebeu Copa do Mundo e Olimpíada, nenhum evento vai ser tão complexo do que isso. Tudo o que vier a partir de então, será mais fácil”, afirmou.
Na opinião do especialista, o País se tornou capaz de formar mão de obra especializada. “Essa mão de obra já se formou no Brasil. Isso vai desde o profissional que fornece gerador de energia, até a hospitalidade em áreas VIPs, licenciamento, material de merchandising, logística dos eventos e segurança”, explicou Martinho.
Em outubro, o país recebe o Mundial Sub-17 masculino. O Brasil substituiu o Peru, que não conseguiu cumprir os encargos exigidos pela Fifa, e vai receber as delegações de 24 países. Os estádios passam por algumas melhorias, mas modestas, distantes dos extensos caderno de encargos da Copa do Mundo do Brasil há cinco anos. A entidade conseguiu flexibilizar o chamado “padrão Fifa”, conjunto de exigências e critérios sobre a utilização dos estádios, além de regras para isentar os organizadores do pagamento de impostos locais ou mesmo de tarifas de importação.
O estádio Kleber Andrade, maior praça esportiva do Espírito Santos, na cidade de Cariacica, na região metropolitana de Vitória, uma das sedes do Mundial Sub-17, contou com investimentos de R$ 15 milhões parar corrigir falta de sinalização, aparentes infiltrações e falta de acabamento. Brasília e Goiânia são as outras sedes do torneio. A CBF não vai ceder estádios que estão sendo usados para jogos do Campeonato Brasileiro. A competição começa no dia 26 de outubro, quando o Brasil encara o Canadá, às 17 horas, no Bezerrão, na cidade-satélite do Gama (DF).
Ancorado no sucesso de audiência do Mundial Feminino, que teve recorde e mobilização inédita na história neste ano e em uma espécie de recuperação do futebol feminino, o Brasil também se candidatou para ser sede em 2023. “O futebol feminino passa por um momento de franca expansão, a CBF tem feito investimentos importantes para melhorar o calendário, as competições, as estruturas e a divulgação da modalidade. Temos que aproveitar os excelentes equipamentos espalhados pelo país e a vinda da Copa do Mundo teria um efeito muito positivo para isso”, afirmou Caboclo.
Além do Brasil, estão na disputa África do Sul, Argentina, Austrália, Bolívia, Colômbia, Coreias do Sul e do Norte, Nova Zelândia e Japão. É um número recorde de nove candidaturas. As vistorias de instalações dos países candidatos terão início em novembro e dezembro deste ano. A escolha do país sede será realizada em março de 2020.
O Brasil também é um dos candidatos a sediar o Mundial Sub-20, que será realizado em 2021. O País superou a primeira fase de concorrência e disputa agora com mais dois concorrentes finais: Indonésia e Peru. A definição será no próximo mês, durante o Congresso da Fifa na China. O secretário-geral da CBF, Walter Feldman, afirmou que a região Nordeste será a sede do Mundial Sub-20, caso o Brasil seja escolhido como anfitrião.
Embora esses eventos sejam menores em comparação ao interesse internacional pela Copa do Mundo, as cifras envolvidas são elevadas. Segundo o balanço financeiro da Fifa, as edições de 2017 dos torneios sub-17 e sub-20 tiveram o orçamentos somados de R$ 152 milhões. Já o Mundial Feminino disputado na França, neste ano, tinha a estimativa de render para a entidade cerca de R$ 540 milhões, valor que certamente será superior na próxima edição, pois serão mais participantes.
A Ásia é o grande obstáculo no caminho do Brasil. Como a Fifa tinha vários contratos que previam a disputa de uma Copa das Confederações em 2021 – um ano antes da Copa do Mundo do Catar -, a entidade entende que precisa compensar o continente com algum torneio. Um dos rivais mais fortes é a candidatura conjunta das duas Coreias.
O legado das grandes competições, no entanto, possui um lado negativo. Das 82 obras que foram inicialmente propostas na Matriz de Responsabilidades da Copa do Mundo, apenas 20 foram concluídas e entregues. Quando a construção e reforma de 12 estádios foi anunciada, a justificativa era de que modernizariam o futebol brasileiro e atrairiam mais torcedores para os campeonatos regionais. As novas arenas custaram cerca de R$ 8,4 bilhões, 184% a mais do que o estimado inicialmente.
Apesar dos enormes investimentos, a maioria dos estádios só viu futebol e arquibancadas lotadas na Copa do Mundo mesmo. Apenas para citar os exemplos dos chamados “elefantes brancos”, sem contar as obras de infraestrutura, principalmente de mobilidade urbana, que não saíram do papel.
Fonte: A Tarde