PACARAIMA, RORAIMA, E RIO – Os militares venezuelanos reforçaram na madrugada deste sábado o fechamento da fronteira com o Brasil, em Pacaraima, Roraima. Além da estrada principal que liga os dois países, onde fica o posto de controle fronteiriço, foram fechadas duas passagens alternativas, uma de um quilômetro e a outra de cinco quilômetros, por onde a população vinha circulando depois do anúncio do bloqueio da divisa, feito na quinta-feira pelo governo de Nicolás Maduro. No posto de controle aduaneiro, há agora cerca de cem militares do país vizinho.
Os militares venezuelanos também assumiram a guarda do único posto de gasolina da região, que fica do lado venezuelano da divisa. Há oito militares guardando o posto, que foi cercado com correntes. Com isso, a população de Pacaraima não pode abastecer seus veículos.
O reforço do fechamento da fronteira coincidiu com a partida de Boa Vista, nas primeiras horas da manhã de hoje, de dois caminhões de pequeno porte com a ajuda em alimentos e insumos médicos doada pelos governos do Brasil e dos Estados Unidos e que está armazenada na Base Aérea da capital do estado. Os caminhões, dirigidos por motoristas venezuelanos, são custodiados por policiais federais e militares brasileiros, que no entanto não tentarão atravessar a fronteira.
Os caminhões, com um total de oito toneladas de ajuda, são acompanhados pelo chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, o encarregado de negócios dos Estados Unidos em Brasília, William Popp, e María Teresa Belandria, designada “embaixadora” no Brasil pelo líder opositor Juan Guaidó, que em 23 de janeiro se proclamou presidente interino da Venezuela com apoio da Assembleia Nacional, que preside, e foi reconhecido por 50 países, incluindo o Brasil.
O objetivo inicial da oposição venezuelana era chegar a ter até 12 caminhões em Roraima, confirmou ao GLOBO uma fonte que participou da organização da operação, mas finalmente foram conseguidos apenas dois caminhões, de pequeno porte. Um deles chegou a Pacaraima por volta de 10h30 (horário de Brasília). Um pneu do segundo furou a 40 minutos da cidade, atrasando sua chegada.
Especula-se entre funcionários brasileiros que acompanham a ação que os opositores do presidente Nicolás Maduro tentarão mobilizar a população venezuelana do outro lado da fronteira, para redobrar a pressão sobre os militares do país e confrontá-los com a opção de abandonar a lealdade ao regime ou negar a passagem da ajuda.
Com todas as passagens fechadas, pessoas tentam cruzar a fronteira Brasil-Venezuela pelo mato NELSON ALMEIDA / AFP
Existe temor de que Maria Teresa Belandria tente passar de alguma maneira para a Venezuela e, nesse caso, informou a fonte, “o Brasil não poderá fazer nada para proteger a representante de Guaidó no país”.
— Estamos trabalhando com uma distância prudente, que não permita sequer um debate sobre nossa entrada em território venezuelano. Se dirigentes da oposição decidirem se arriscar, não poderemos fazer nada — frisou a fonte.
A ajuda humanitária que chegará neste sábado à fronteira é simbólica e bem menor do que se esperava num primeiro momento.
— Foi tudo feito às pressas, não havia maneira de organizar uma operação maior — ampliou a fonte.
Na sexta-feira, integrantes da Guarda Nacional Bolivariana reprimiram um grupo de indígenas venezuelanos que tentou impedir a passagem de veículos militares a cerca de 70 quilômetros da fronteira brasileira. Duas pessoas foram mortas e nove, feridas a bala e em estado grave, foram trazidas para atendimento médico em Roraima. As duas ambulâncias que os trouxeram foram os únicos veículos autorizados pelos militares venezuelanos a cruzar a aduana em Pacaraima na sexta-feira.
Na noite de sexta-feira, o governo venezuelano também anunciou o bloqueio total da fronteira com a Colômbia no estado de Táchira, vizinho ao departamento (estado) colombiano de Norte de Santander. Lá, na cidade de Cúcuta, estão armazenadas 600 toneladas de suprimentos que Guaidó prometeu começar a entregar hoje aos venezuelanos.