“Com exercícios regulares, o indivíduo se afasta de fatores etiológicos conhecidamente relacionados ao desenvolvimento de câncer, como fumo e álcool. A obesidade, que de fato pode ser combatida com a combinação de dieta adequada e prática de exercícios físicos, é reconhecidamente um fator etiológico de determinadas neoplasias malignas”, avalia a Onco-hematologista da Oncoclínica Centro de Tratamento Oncológico, Adriana Scheliga.
No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima a ocorrência de 600 mil casos novos a cada ano, para o biênio 2018-2019. No ano passado, foi elaborada uma lista com os 25 tópicos mais fortemente relacionados ao desenvolvimento do câncer. O objetivo é evitar paranoias e, ao mesmo tempo, conscientizar a população a respeito dos cuidados a serem tomados.
“Um dos aspectos mais importantes para a prevenção do câncer diz respeito ao nível de evidências científicas que atribuem hábitos de vida ou exposição a substâncias ao desenvolvimento da doença. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), da Organização Mundial de Saúde, estabelece uma série de critérios antes de classificar uma substância como carcinogênica, ou seja, capaz de provocar ou estimular o aparecimento do câncer em um organismo”, avalia o oncologista Cristiano Guedes Duque.
A adoção de hábitos de vidas saudáveis e evitar a exposição às substâncias relacionadas pode evitar não só o câncer, mas também uma série de doenças potencialmente graves. O oncologista Cristiano Guedes Duque explica melhor sobre a relação dos tumores com algumas práticas.
Revela, por exemplo, hábitos que podem estar relacionados ou não ao câncer. Veja a seguir:
Tabaco: Trata-se da principal causa no mundo inteiro de doenças e mortes evitáveis. Estima-se que o cigarro esteja relacionado à morte de quase a metade de seus usuários em longo prazo. A recomendação é não fumar e não utilizar nenhuma forma de tabaco.
Tabagismo passivo: Também pode causar câncer e outras doenças crônicas, inclusive em crianças. Não se deve fumar dentro de casa.
Peso saudável: Inclui dieta e atividade física, o que pode reduzir em até 18% o risco de desenvolver câncer.
Atividade física: O recomendável é que as pessoas se mantenham moderadamente ativas por 30 minutos ao dia.
Alimentação: Devem ser evitados: alimentos com excesso de calorias (tanto por açúcar como por gorduras), bebidas com excesso de açúcar.
Álcool: Se a pessoa já possui esse hábito, deve procurar limitar a quantidade. O melhor para a prevenção do câncer é evitar qualquer consumo de álcool.
Exposição ao sol: Evite exposição em excesso, principalmente em crianças. Sempre que necessário, utilize medidas de proteção (roupas, protetor solar). Não deve ser realizado o bronzeamento artificial.
Poluição do ar e exposição a substâncias: Inclui as substâncias utilizadas no trabalho (na indústria ou em serviços, como de cabeleireiros). O uso de forno a lenha deve ser evitado, principalmente se não há exaustão correta. O ambiente das cidades deve ter medidas para controle da poluição.
Saúde da mulher: Se possível, as mães devem amamentar seus filhos. A reposição hormonal pós-menopausa deve ser evitada ou pelo menos limitada.
Vacinação e infecções: As vacinas contra hepatite B e HPV podem evitar o câncer.
Radiação: Deve ser evitada exposição desnecessária, principalmente na área da saúde.
Rastreamento: A descoberta do câncer antes dos sintomas aumenta as chances de cura. Cânceres de mama, de colo uterino e de intestino são os principais. As pessoas que têm história familiar de câncer devem ter atenção especial aos hábitos de vida e discutir com os médicos a necessidade de um rastreamento individualizado.
Respirar certas substâncias, comer determinados alimentos e até mesmo usar alguns tipos de plásticos elevam o risco de desenvolver alguns tipos de câncer.
Adriana Scheliga analisa alguns agentes cancerígenos conhecidos, assim como outros temas nos quais os cientistas estão se concentrando e classificando como principais suspeitos.
Açúcar: O açúcar refinado branco, presente em doces, biscoitos e muitos produtos industrializados, quando consumido em excesso, pode levar à obesidade, a alterações metabólicas e até ao desenvolvimento do diabetes mellitus. A obesidade pode aumentar o risco de desenvolvimento de câncer de mama, cólon e reto, esôfago, rim e pâncreas. É importante lembrar que o açúcar está presente em diversos alimentos como componente natural essencial. Alguns exemplos são a frutose nas frutas e a lactose nos derivados de leite. Portanto, a utilização de açúcar isoladamente não pode ser considerada um fator de causa e efeito de câncer.
Alimentos processados: Qualquer alimento que venha em um invólucro de plástico e esteja industrialmente selado foi projetado para durar meses sem estragar. Cientistas na França recentemente demonstraram uma relação entre pessoas que comem mais alimentos processados e aqueles que desenvolvem câncer. Porém, ainda não há certeza se o problema são os ingredientes estabilizadores do produto, a embalagem plástica ou alguma combinação dos dois. Por isso, mais estudos são necessários para de fato comprovar a correlação de causa e efeito. Já alimentos como os embutidos (linguiças, salsichas, presuntos e apresuntados, entre outros) são apontados como grandes vilões por causa do tratamento recebido pela carne para preservá-la ou temperá-la, como salgar, curar, fermentar ou defumar.
Produtos químicos e substâncias tóxicas: Algumas pessoas trabalham diariamente com substâncias potencialmente causadoras de câncer. Funcionários em fábrica de alumínio, amianto, determinadas tintas, derivados de benzeno, fabricantes de borracha, cabeleireiros que utilizam corantes (as coloristas) sem proteção, trabalhadores de minas de carvão, trabalhadores em locais de escapamento de vapores de derivados de diesel e gasolina (como frentistas de posto de gasolina), formaldeído, arsênico.
Carne vermelha: A OMS sugere que qualquer tipo de carne vermelha possa estar ligada a um aumento do risco de câncer colorretal. Além disso, há algumas evidências que indicam que sua contribuição para o câncer pancreático e de próstata, embora essa evidência não seja tão forte. As carnes defumadas e churrascos provavelmente também aumentam o risco de câncer, porque quando são assadas em fogo muito quente ou são fritas em altas temperaturas eliminam substâncias, como as aminas heterocíclicas e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, que junto com as chamas aumentam os produtos químicos cozidos na carne consumida. Os pesquisadores não estão certos de que esses produtos químicos causem câncer. Contudo, em testes de laboratório, o DNA celular sofre mudanças que podem aumentar o risco de câncer.
Herbicidas e pesticidas: Há evidências de que os herbicidas e pesticidas utilizados na lavoura estejam mais relacionados ao câncer nos agricultores do que nas pessoas que ingerem alimentos pulverizados com essas substâncias
Poeira de madeira: Trabalhadores de serrarias e marceneiros que respiram grandes quantidades de poeira ao cortar e moldar madeira de um modo geral têm maior probabilidade de desenvolver câncer da cavidade nasal do que uma pessoa comum.
Status menstrual da mulher: As mulheres que começam a menstruar mais cedo ou entram na menopausa mais tarde podem ter um risco aumentado de câncer de mama, porque estão expostas a um tempo mais prolongado ao estrogênio e à progesterona produzidos pelos ovários. As mulheres que entram na menopausa e utilizam reposição hormonal combinada de estrogênio e progesterona para ajudar a aliviar os sintomas também podem estar em maior risco. Sobre a utilização das pílulas anticoncepcionais, que embora muitas vezes estão associadas a um potencial risco aumentado de câncer de colo de útero, há algumas evidências de que estar sob controle de natalidade por outro lado esteja associado a um risco reduzido de desenvolver outros tipos de câncer, como do endométrio, colorretal e de ovário.
História familiar: Algum risco de câncer é transmitido de geração em geração. As mutações genéticas podem ocorrer em cerca de 5-10% de todos os cânceres. E essas alterações genéticas que promovem o câncer podem ser herdadas de nossos pais, se elas estiverem presentes nas células chamadas germinativas (óvulos e espermatozoides). Por exemplo, certos tipos de câncer de mama são resultado de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2.
Próteses de silicone: Recentemente, foi descrita uma nova entidade chamada linfoma anaplásico de grandes células associado a implantes de mama. É um tipo de câncer em mulheres com implantes de silicone de mama. Ainda assim, essa entidade é rara, e deve-se apenas alertar as mulheres e seus cirurgiões que devem manter suas pacientes sempre sob controle. Não é uma contraindicação ao seu uso.
Poluição do ar: A inalação de fuligem também tem sido associada ao câncer de pulmão, esôfago e de bexiga. Cientistas estudaram bombeiros, funcionários de escritórios e estudantes de Nova York que estiveram em Manhattan nos dias e semanas após os ataques de 11 de setembro e descobriram que eles tinham taxas mais altas de câncer, incluindo câncer de mama, colo de útero, pulmão e mais recentemente mieloma múltiplo. Já a sílica, mineral natural encontrado na areia, pedra e concreto, está associada a um aumento do câncer de pulmão, quando trabalhadores da construção civil e mineiros inalam partículas de sílica cortando ou perfurando pedras.
Radiação: As pessoas que viviam perto do local do desastre nuclear do ano 1986 em Chernobyl, na Ucrânia, desenvolveram taxas mais altas do que as usuais de câncer de pulmão, tireoide e leucemias agudas.
Alguns plásticos: Os plásticos podem ser perigosos, especialmente quando liberam substâncias químicas, como o BPA, substância que tem sido utilizada em muitos plásticos e resinas desde a década de 1960. As resinas de BPA podem ser usadas dentro de produtos como latas de alimentos metálicos como substâncias selantes, assim como em garrafas de plástico de água e recipientes de armazenamento de alimentos. Embora muitos fabricantes de plásticos tenham começado a rotular seus produtos como “livre de BPA”, os cânceres de mama e próstata podem estar ligados a essas substâncias. Hoje, alguns Estados americanos aboliram definitivamente a comercialização de garrafas plásticas de água.
Acrilamida: O escurecimento de alguns alimentos cozidos ou assados em altas temperaturas – como pão, café ou batatas fritas – produz um composto químico chamado acrilamida. Isso acontece naturalmente em um processo chamado reação de Maillard. Porém, a dose de acrilamida em uma xícara de café ou um pãozinho assado na chapa provavelmente não é perigosa. A Anvisa alerta que os modelos teóricos para predizer se um câncer poderia ser desenvolvido no ser humano como resultado da ingestão de alimentos contendo acrilamida, não são confiáveis para desenvolver conclusões consistentes sobre o risco. Ainda assim, um juiz do estado da Califórnia, nos Estados Unidos, decidiu no início deste ano que os vendedores de café devem alertar seus clientes sobre os possíveis riscos de câncer da acrilamida no café.