O empreiteiro Carlos Rodrigues do Prado afirmou nesta segunda-feira (19/2) em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, que entregou o orçamento de uma obra do sítio de Atibaia (SP) a um assessor do ex-presidente Lula. Segundo ele, Rogério Aurélio Pimentel aprovou os valores sem discussão e sem pedido de “desconto”’ em um posto de gasolina próximo à propriedade rural. Carlos Rodrigues Prado falou à Operação Lava Jato como testemunha de acusação em ação penal contra o petista.
O empreiteiro afirmou ter cobrado o montante de R$ 163 mil, dividido em quatro vezes, para fazer a obra em 2010. De acordo com ele, a reforma teve início em dezembro daquele ano e ‘rolou ali uns 30 dias, mais ou menos’.
Ao juiz Moro, o empreiteiro relatou que foi chamado pelo engenheiro Frederico Barbosa, ligado à Odebrecht, para terminar a obra de dois cômodos e de uma guarita do sítio. Segundo Carlos do Prado, o engenheiro o apresentou a Rogério Aurélio Pimentel, assessor de Lula e também réu na ação sobre as reformas do sítio de Atibaia. O ex-presidente é acusado por corrupção e lavagem de dinheiro.
“Eu não sabia nem o nome dele (Aurélio). Depois que eu fiquei sabendo que o Aurélio é uma pessoa que negociava ou acertava os negócios da obra. Inicialmente, a única pessoa que eu conhecia lá era o seu Frederico. Esse Aurélio foi quando eu fiz o orçamento, que eu liguei para o Frederico: ‘olha, o orçamento da obra está pronto’. A gente encontrou em um posto de gasolina que tinha lá antes de chegar na obra e encontrei com o Frederico e esse Aurélio. Ele (Frederico) falou: ‘o dono da obra é esse daqui’. Eu passei para ele, eles conversaram lá e a gente começou a tocar a obra”, contou.
O empreiteiro foi questionado pelo Ministério Público Federal sobre o orçamento da obra. O procurador quis saber se Carlos do Prado havia passado a estimativa dos gastos a Aurélio e também se o assessor de Lula havia concordado.
“Concordou. Não teve assim nem discussão: ‘Ah, me dá um desconto’”, disse Carlos do Prado.
“O Frederico tinha me comentado que a obra ia ser tocada todos os dias e não tinha horário para parar, poderia parar 20h, 21h, ia depender do avanço da obra. Então, não teve muito assim discussão: ‘ah, me faz isso aqui mais barato’ ou ‘isso aqui está caro’. Não houve essa discussão.”
Carlos do Prado narrou que colocou “10, 11 pessoas, não passou disso”.
“O Frederico falava ali em 30 dias, disse que em 30 dias a obra tinha que estar pronta”, disse.
O empreiteiro relatou que combinou de receber o pagamento ‘por semana em espécie’.
O Ministério Público Federal perguntou a Carlos do Prado quem era o responsável pelo pagamento.
“O Aurélio”, respondeu o empreiteiro.
“Sempre quando ele ia para o sítio, nesse posto de gasolina, a gente se encontrava lá. Ele me entregava o envelope, eu pegava e ia embora. (…) Normalmente ele anotava em um envelope, um papelzinho com o valor que estava lá dentro. Eu pegava, conferia, tudo certo.”
A última parcela foi paga, segundo Carlos do Prado, em 8 de Fevereiro de 2011: R$ 43 mil.
“Foi o último pagamento, que a gente já não estava nem com funcionário lá. Eu recebi isso aí, inclusive foi feito um depósito desse restante”, afirmou.
A denúncia do Ministério Público Federal, no caso do sítio de Atibaia, aponta que Aurélio é ex-servidor da Presidência da República e foi o responsável pelo recebimento dos bens do petista no sítio em 8 de janeiro de 2011. Segundo a Lava Jato, naquele ano, Aurélio ‘era servidor ocupante de cargo em comissão da Presidência da República e assessorava Lula diretamente’.
“Rogério Aurélio era pessoa da estrita confiança de Lula, tendo desempenhado funções de destaque durante todo o processo de reforma do sítio em benefício do então Presidente da República”, acusa a Procuradoria da República.
A reportagem fez contato com a defesa de Roberto Teixeira. O espaço está aberto para manifestação.
Fonte: Metrópoles / Estadão