Dois anos sem Gilberto Santos

“Como é que tá aí? De você faz tempo que eu não ouço nada. Fala um pouco, sua voz tá tão calada. Sei que agora deve estar impressionando os anjos com sua risada”. Poxa, amigo… dois anos sem a sua voz, o seu sorriso, a sua irreverência, a sua pirraça e a sua amizade. Nas poucas divergências, quando os pontos de vista eram diferentes em relação ao programa, naqueles telefonemas que me acordavam e eu, ainda desorientada de sono, era chamada de amarela, nos intermináveis áudios do whatsapp, em que falávamos de mil coisas ou naqueles momentos em que queríamos a companhia um do outro, sem nenhum motivo “especial”, havia muito amor.” por Thaty Miranda | Jornalista

O amor dos laços fraternos que se tornaram ainda mais estreitos quando passamos a trabalhar juntos. E era tão bom, que nem parecia trabalho. Era a mágica de fazer o que se gosta com quem se gosta. Você partiu, mas todos os momentos lindos ficaram. E são eles que o mantém vivo para os amigos, familiares e ouvintes, seus eternos fãs. Apesar da saudade enorme e da lacuna gigantesca que ficou nos nossos corações e no rádio conquistense, agradeço a Deus pela felicidade de ter convivido contigo, uma das pessoas mais generosas que conheci.

Que bom que uma pessoa como você, Gilberto, que nasceu na zona rural de Vitória da Conquista, logo tenha vindo para a sede com a sua família, sendo comerciante até se apaixonar pelo rádio. Ainda lembro o início de sua carreira na Líder FM, na década de 1990. Em 2003, passou a fazer parte da equipe da Rádio Clube e comandou, por mais de 12 anos um dos programas de maior audiência no rádio local, o Love Night, atração que ia ao ar de segunda a sexta, das 20 às 23h. Dono de uma voz forte, você possuía o carisma daqueles que queremos ter sempre por perto. E era assim que os seus ouvintes se sentiam: amigos próximos. Homem das traduções, você sabia como ninguém falar aos corações apaixonados. O público do Love Night tinha em você, muitas vezes, um confidente.

Ficou marcado o dia 25 de dezembro de 2004: foi quando você, Gilberto, estreou, ao lado de Luciano Cabelo de Mola, o Arrocha Brasil, que vocês idealizaram e que trazia arrocha, forró, sertanejo e os clássicos da música brega. Para comandar a atração, você encarnou o inesquecível “Velho Zuza”, sucesso com Chico Anísio. Mas o nosso Zuza era uma imitação com o tempero baiano. Todos percebiam, misturada e em contradição com o mau humor, uma alegria que contagiava. Luciano Cabelo de Mola, por conta de outros projetos, ficou pouco tempo na atração. Zuza então formou uma equipe que chamava carinhosamente de catrupia. E foi assim, ora amuado, ora afetuoso e com tiradas e piadas engraçadas, que o Velho Zuza conquistou ouvintes em todos os lugares em que as ondas da Rádio Clube chegam. Como você gostava de dizer, o programa era ouvido da brenha à Universidade.

Essa diversidade em seu público era uma demonstração da sua enorme competência como comunicador. Você sabia fazer rádio. Sabia se fazer entender por todos. Dominava a linguagem radiofônica que se caracteriza pela objetividade e clareza. A catrupia de Zuza teve várias formações ao longo dos mais de 11 anos em que você esteve no comando do programa. Os últimos membros foram Tiquim e eu. Tiquim assumiu o programa Arrocha Brasil após sua partida, naquele triste 24 de janeiro de 2016. Você se foi tão cedo. Aos 47 anos. Deixou uma lacuna imensa no rádio conquistense e na vida dos amigos, colegas de trabalho e ouvintes. Mas nos deixou também o maior legado que existe: o amor. Amor pelo outro. Amor pela profissão. E foi através desse amor que se tornou eterno em nossos corações.

 

Fonte: Diário Conquistense

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