Mortes em plena luz do dia, crimes a sangue-frio e disparos a esmo para eliminar quem trai, rouba ou ousa desafiar os limites territoriais dos traficantes de drogas.
Este tem sido o cenário em Conquista, dividida ao meio por duas fações criminosas que disputam ponto-a-ponto viciados em crack, maconha e cocaína. Juntas, respondem pela esmagadora maioria das 197 mortes violentas somente este ano.
OUSADIA
De um lado, a facção dominada por Jasiane Silva Teixeira, vulgo “dona Maria”, que tem como principal gerente Juarez Vicente Morais, 27 anos, o “neguinho”. Dissidente da facção rival, se junto a Jaciane para desbravar fronteiras.
Seu poderio, influência e ousadia são tamanhos que no território sob o seu comando quem entra é condenado à morte sumária. O aviso territorial é dado por inscrições em letras grandes com as iniciais BDN, ou Bonde do Neguinho.
Para resguardar suas ações e investidas criminosas, o ora foragido da Justiça “neguinho”, tem sob o seu comando um exército com mais de 200 jovens, entre crianças e adolescentes. São fiéis “soldados”, responsáveis pela execução de cobranças, mortes e por seu esconderijo.
O último deles ficava no triângulo compreendido entre os conjuntos habitacionais do “Minha Casa, Minha Vida”, entre os bairros do Atacadão, Campinhos e Miro Cairo.
Do outro, o autodenominado BNB, ou Bonde do Nem Bomba, comandado pelo dono do apelido, William Alves Souza Filho. Igualmente foragido, continua ordenando crimes aos seus sicários.
Tendo ao seu lado o “braço direito”, Alisson Silva Souza, 24 anos, seu raio de atuação está concentrado nos bairros Pedrinhas, Alto da Conquista, Cruzeiro e Alto Maron. Todos os líderes e comparsas mais próximos tem passagens pela polícia.
INVASÕES
Não existe trégua, nem piedade. Muito menos existe respeito aos limites de território. A ordem é invadir, ocupar e fincar a bandeira da fação.
Em outubro de 2015 o BDN expulsou rivais e se apossou de quatro imóveis no Conjunto Habitacional Vila Sul. “Estas casas eram de traficantes rivais que mataram o jovem apelidado de Babinha, morto em um salão no mesmo bairro. A traficante que ordenou é chamada de Nidinha”, contou uma fonte.
Recentemente a polícia civil conseguiu evitar uma chacina numa casa noturna, onde todas as pessoas que estivessem no local deveriam ser executadas.
“A polícia civil se antecipou, após obter informações, e numa troca de tiros após resistência à prisão, e quatro infratores morreram de posse de quatro armas de fogo”, comentou o delegado Neuberto Costa, titular da recém-implantada Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes (DTE).
“Descobrimos que eles estavam envolvidos em vários homicídios, a mando dessa facção. Inclusive depois dessas mortes houve uma redução significativa no número de homicídios”, prosseguiu.
Mais de 90% dos homicídios tem relação direta com o tráfico de drogas, em razão da disputa entre facções rivais de traficantes. “Já foram identificadas, sabemos quem são seus líderes, vários tem mandados de prisão decretados pela Justiça e estamos representando pelas prisões”.
Em março deste ano a Coordenadoria da 10ª Coorpin (Coordenadoria Regional de Polícia do Interior), criou o NTE (Núcleo Tóxicos e Entorpecentes) e, mais recentemente, o governo implantou a DTE, vinculada ao DRACO de Salvador (Departamento de Repressão ao Crime Organizado) “Agora haverá um trabalho mais especializado, específico e voltado ao tráfico de drogas”, destacou.
Com estrutura própria, com delgado, escrivães e investigadores, a DTE possibilitará a intensificação nas ações contra os traficantes. “É justamente para diminuir a violência na cidade, pois sabemos, segundo a nossa estatística de anos, que o tráfico de drogas está relacionado com a maioria dos crimes violentos, inclusive homicídios”, concluiu.
Fonte: Celino Souza / Ibahia
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