LUTO | J. Menezes, aos 91 anos, símbolo
Morreu nesta sexta-feira, 28, o radialista decano do Rádio conquistense, José Amaral Menezes, mais conhecido por Jota Menezes. Possuidor de bela voz e domínio absoluto ao falar em público, J. Menezes foi um dos mais importantes comunicadores do Rádio na Bahia.
Menezes iniciou as suas atividades na ZYN 25 Rádio Clube de Conquista (AM), no início da década de 50, e foi o segundo conquistense, após Hélio Gusmão, a integrar a equipe comanda pelo fundador da emissora, Aurelino Ribeiro Novaes.
Natural de Jequié, ele chegou a Conquista aos seis anos de idade. Na infância, dividia o tempo entre as brincadeiras e alguns trabalhos esporádicos, como engraxar sapatos e carregar sacolas no centro da cidade. Jota confessava que, desde cedo, gostava de ver as pessoas falando ao microfone e achava fascinante aquela projeção da voz.
Foi na adolescência que ele começou a dar os primeiros passos na área da comunicação, como locutor em serviços de alto-falante da Rádio Cairo Center e no serviço de alto-falante A voz de Conquista.
Dono de uma voz forte e com muita determinação, não demorou a passar dos alto-falantes para os estúdios da Rádio Clube, onde trabalhou durante toda sua vida profissional, até os anos 90.
Na Rádio Clube o homenageado foi apresentador do programa Atendendo aos Ouvintes e a Cidade em Revista, na época os mais ouvidos. Menezes apresentou também o programa Carrossel da Alegria, formato parecido com o atual programa do Faustão e integrou e comandou programas e as primeiras transmissões de futebol feitas por uma Rádio na cidade.
J. Meneses fez história no rádio conquistense ao lado dos ex-colegas de microfone Hélio Gusmão, Gilson Moura, Dourival Barbosa, Edson Maciel, Luís Cláudio e Afonso Oliveira. Conteúdo em atualização.
Saudoso, o radialista sempre recordava o período glamouroso do rádio, quando a voz e a imaginação davam a tônica para o deleite do ouvinte. Sem muitos recursos, mas com bastante criatividade, a programação era construída diariamente. Ele lembra que, antes, quase 90% do que ia ao ar era produção local.
Rádio novelas, programas como o Dedicatória Musical e o Valores da Terra – um programa de calouros em que se apresentaram artistas como Xangai e Gilberto Gil – compunham um leque diverso e rico em conteúdo.
Não há como não falar também dos concursos de reis e rainhas do rádio, dos concursos de vitrines de lojas e, principalmente, dos programas de auditório. Em Vitória da Conquista, o programa Alegria dos Bairros, que acontecia toda semana em um bairro diferente, levava cultura e entretenimento para as ruas, com shows de calouros e convidados especiais.
Jota Menezes também apresentava shows em datas comemorativas, que aconteciam em praças públicas ou no Estádio Lomanto Junior. “Naquela época, Vitória da Conquista não tinha muitas opções de lazer como tem hoje, o rádio era a alegria das famílias; era o rádio que levava apresentações para os bairros, que promovia festas, o rádio tinha uma grande importância para a cidade”, afirmou em recente entrevista.
Na vida política da cidade, a voz de Jota Menezes também ficou marcada. Era ele quem transmitia os boletins parciais durante as apurações de votos. Ao ouvir a voz de Jota, as pessoas já corriam em direção rádio para saber as últimas notícias sobre as disputas eleitorais.
Onde havia uma notícia, lá estava Jota Menezes com um gravador e um microfone nas mãos, noticiando a vida cotidiana de Conquista e fatos marcantes para a cidade, como a inauguração da Rio-Bahia, festa que teve a participação da Caravana de artistas da Rádio Nacional e do presidente João Goulart.
Neste dia, Jota fez uma matéria exibida nacionalmente pelo Programa A voz do Brasil. O radialista também divulgou fatos trágicos: ele conta que o episódio mais triste que noticiou foi o acidente na Lagoa de Baixo, envolvendo um caminhão. Não houve sobreviventes e a rádio transmitiu todo o processo de resgate das vítimas.
Entre histórias e muitas recordações, quando concedia entrevistas, Jota Menezes ia contando sua trajetória que, em muitos momentos, se entrelaçava à história do rádio de Vitória da Conquista. Ao comparar a programação radiofônica daquela época e a de hoje, ele diz que a diferença é imensa.
“O rádio de antigamente se preocupava em divertir, mas também em educar. Hoje as rádios estão todas num mesmo padrão, perderam a autenticidade”, lembrava. Apesar de lamentar esse esvaziamento de conteúdo, Jota reconhece que Vitória da Conquista tem boas emissoras, com boa qualidade de som e bons profissionais.
Ouvinte assíduo de rádio, ele comenta que sente uma lacuna na programação. “As rádios não têm programas voltados para as pessoas da terceira idade, um público fiel que já não tem mais onde ouvir as músicas que gosta. Algumas rádios passam músicas mais antigas durante a madrugada. Às vezes, acordo e sintonizo só para ouvir aquelas canções bonitas. Essas músicas de hoje, nossa! Não dá nem para comentar”.
Há algum tempo, o radialista se dedicou a um projeto chamado Assim era o Rádio: foram seis programas que reuniram a velha guarda do rádio conquistense, resgatando a tradição e apresentando para as novas gerações o que se produzia antigamente.
Atualmente, aos 91 anos, com quatro filhos, o radialista se dedicava à família e trabalhava com sonorização ao lado de um dos filhos. Num estúdio montado em casa, ele guardava centenas de discos de vinil e lembranças da época de ouro do rádio conquistense. Também aproveitava o tempo livre para ver televisão e assistir filmes antigos, principalmente os clássicos do western.
Homenagem – Em 2009, Jota Menezes recebeu duas homenagens que reconheceram o talento e a contribuição do radialista para o desenvolvimento da comunicação em Vitória da Conquista. Primeiro, ele recebeu o título de cidadão conquistense. Depois, a convite do prefeito Guilherme Menezes, participou da programação do Natal da Cidade 2009 apresentando o show “Uma cidade a cantar“, que reuniu diversos artistas conquistenses para um tributo a canções que marcaram época e continuam vivas na memória da população. “
Para o homem que fez parte e ajudou a construir a história do rádio de Vitória da Conquista, falar da sua trajetória de vida é recordar histórias de uma época muito particular, de um tempo que está ali, no limite da saudade; saudade dos fatos vividos, das imagens construídas no imaginário das pessoas que acompanhavam os programas: são memórias que parecem imortalizadas na voz que se tornou um patrimônio do rádio conquistense. | com informações de arquivo da PMVC.