Na tarde desta quarta-feira (6), o prefeito em exercício, Luís Carlos Dudé recebeu em audiência um importante personagem da história política de Vitória da Conquista, da Bahia e do Brasil: o ex-deputado federal Élquisson Soares. O motivo oficial da visita do advogado, ex-vereador, ex-deputado estadual e ex-deputado federal foi conversar com o prefeito em exercício a respeito de uma pendência que envolve um terreno de sua propriedade, com 100 metros de área, situado numa área à margem da BR-116, na qual foi afixada, à revelia do proprietário, uma placa qualificando a área como de preservação permanente (APP).
A fim de resolver a demanda, o gestor em exercício pediu que o advogado envie à Prefeitura a documentação do terreno. Assim, os setores envolvidos poderão fazer um levantamento dos dados, vistoriar a área em questão e verificar qual será o encaminhamento mais adequado.
No entanto, nem só de discussões técnicas foi feita a reunião entre Dudé e o ex-deputado. Foi, muito mais, o reencontro entre dois amigos que se conhecem há muitos anos. “Eu sabia do seu potencial, que terminou por se confirmar”, afirmou Elquisson, depois de cumprimentar o atual chefe do Executivo.
Como não pôde comparecer à cerimônia do dia 1º de julho, na qual a prefeita Sheila Lemos transmitiu o cargo a Dudé, que o exerce durante duas semanas, enquanto a gestora tira férias, Elquisson viu na reunião de hoje uma oportunidade para matar saudades e conversar sobre antigos amigos em comum. “Vim também para corrigir essa falha e explicar por que eu não estava presente na cerimônia”, explicou o advogado, que faltou ao ato por ter de comparecer a outro compromisso, já previamente agendado.
Vários dos amigos em comum mencionados por Élquisson, aliás, aparecem nos retratos que enfeitam as paredes do gabinete, que têm, de semelhante, o fato de, em algum momento, terem se sentado na cadeira que hoje é ocupada pela prefeita Sheila – e, temporariamente, por Dudé. Ao se virar para olhá-los, Elquisson dizia algo sobre cada um.
De Jadiel Matos, velho companheiro de militância, disse: “Foi o prefeito com quem tive mais proximidade”. Sobre Orlando Leite, adversário político, reconheceu qualidades na atuação profissional. “Em política, eu era o inverso dele. Mas, em Vitória da Conquista, não nasceu um advogado melhor do que ele”, afirmou.
Diante do retrato de Nilton Gonçalves, com quem tinha mais afinidade política, descreveu-o como “um poeta, mais até que advogado”. A respeito de Fernando Spínola, outro antípoda político, também teceu elogios à competência como médico. “Ele não era só um médico. Era um hospital completo”, garantiu.
“Eram intelectuais de peso. Hoje temos algumas figuras assim, como Ubirajara Brito, Ruy Medeiros, Durval Menezes. Estou falando de pessoas da minha geração, porque, no passado, houve outros tantos”, contou Elquisson.
Trajetória política
Com 82 anos de idade, recém-completados no dia 27 de junho, Elquisson acompanha a política conquistense desde a década de 1960. Embora tenha nascido em Anagé, foi em Vitória da Conquista que ele montou sua base política e desempenhou uma longa e intensa trajetória. Primeiro, como professor da Escola Normal. Em seguida, como vereador eleito em 1972, pelo MDB, partido que fazia oposição à ditadura militar que, em 1964, havia cassado o mandato de seu amigo, o então prefeito José Pedral.
Dudé relembrou essa passagem, que ocorreu quando ele tinha cerca de um ano de idade. “Elquisson foi, proporcionalmente, o vereador mais votado da história de Conquista”, garantiu o gestor interino, referindo-se aos mais de 3.700 votos dados a Elquisson em 1972, época em que o município possuía menos de 40 mil eleitores. Mesmo que mais de dois mil desses votos tenham sido anulados pela Justiça Eleitoral, por conterem erros de escrita (eleitores tinham de escrever os nomes de seus candidatos nas cédulas), ele manteve cerca de 1.700 votos válidos e, mesmo assim, foi eleito com folga.
Dono de oratória potente, reconhecida inclusive entre adversários políticos, Elquisson teve trajetória política meteórica a partir daí. Em 1974, elegeu-se deputado estadual. Nesse ano, apenas em Vitória da Conquista, teve mais de 10.600 votos, além de boas votações em cidades como Anagé e Salvador. E, quatro anos depois, outra votação majoritariamente conquistense garantiu a Elquisson Soares uma vaga na Câmara Federal, para a qual se reelegeu em 1982, permanecendo até 1987.
Em breve, uma biografia do ex-deputado, de autoria do escritor Durval Menezes, será lançada.
Acompanharam a audiência a secretária Ana Cláudia Passos, de Meio Ambiente; o assessor interino, Lucas Batista, e Lucas Dias, secretário chefe do Gabinete Civil.