Na noite do dia 24 de novembro de 1991, morria o vocalista do Queen, Freddie Mercury. A notícia, que só se tornou pública na manhã do dia seguinte, contrastou com uma revelação, amplamente divulgada um dia antes de sua morte; Freddie revelou que era portador do vírus HIV e enalteceu que a revelação era um estímulo para que todos os fãs da banda se compadecessem com o risco eminente da doença.
(Show no Rock in Rio em 1985)
Aos 45 anos de idade, o vocalista — que fazia questão de enaltecer que não era líder do Queen — deixava milhares de admiradores pelo mundo órfãos de sua voz marcante, da presença de palco enérgica e das composições miraculosas presentes nos álbuns do conjunto e também em trabalhos solo.
Muito dos trabalhos da banda foram influenciados pela graduação de Freddie em artes no Ealing Art College, em Londres, anos antes da formação do grupo. Lá adquiriu técnica para aproveitar o emergente movimento de ópera rock dos anos 1970 e edificar o trabalho com ideais eruditas. Inclusive, servindo como provocação de Sid Vicious, dos Sex Pistols, contra o bigodudo, rendendo uma briga dentro do Wessex Studios após o punk ironizar que Freddie estaria “levando o balé para as massas”.
Em entrevista exclusiva à Aventuras na História, Pedro Antunes, colunista e curador musical do portal Splash, da UOL, destacou a presença do cantor na mescla de estilos: “Todo o lance de harmonias eruditas não é incomum no rock, inclusive nas bandas de metal melódico. Acho que o Freddie Mercury fazia era levar isso para o pop e entender que essas harmonias funcionariam em músicas como ‘Bohemian Rhapsody’”.
Paixão nacional
A trajetória meteórica do cantor junto ao Queen teve duas passagens especiais na história do Brasil, sendo a primeira em São Paulo, em 1981, contando com mais de 110 mil pessoas na plateia e transmissão pela Bandeirantes. A passagem foi calorosa, visto que a última grande banda internacional que havia pisado em São Paulo era o Genesis de Phil Collins, em 1977, atravessando uma crise de shows internacionais no país durante o governo militar.
Quatro anos depois, o auge das apresentações da banda em terras tupiniquins ocorreu no palco da primeira edição do Rock In Rio, em 1985. O espetáculo de mais de 150 mil vozes unidas em coro não apenas consolidou a banda como uma das queridinhas dos brasileiros, mas também colocou o festival e o país no mapa das turnês mundiais de renomados artistas.
Pedro relaciona a importância da aproximação da banda com a admiração do cantor: “O Queen está nesse hall de artistas gringos completamente idolatrados pelo público brasileiro. Se a gente fizer uma enquete de melhor vocalista de todos os tempos para o público brasileiro – roqueiro, em média –, o Freddie Mercury certamente estaria no primeiro lugar. […] No caso do Brasil, é gigantesco o impacto que ele tem”.
Enaltecendo o impacto das apresentações do Queen no Brasil, o colunista acrescenta que o bigodudo não tem o mesmo reconhecimento em outros lugares do planeta. “Se você pegar, por exemplo, uma lista que a Rolling Stone norte-americana produziu de “maiores vozes”, de “maiores cantores e cantoras da história”, o Freddie Mercury tá em décimo oitavo lugar. Ele não está nem no top 10”, afirmou Pedro.
Legado após a morte
Mesmo após o falecimento do músico, a união entre os membros da banda se manteve fortalecida nos anos seguintes, concluindo e lançando o álbum de inéditas “Made in Heaven” quatro anos depois, com diversas faixas contendo os vocais de Freddie. Além disso, foram feitos alguns shows comemorativos contando com vocalistas convidados, como George Michael, Elton John e Axl Rose.
A dúvida sobre “como seria o Queen se Freddie ainda estivesse vivo”, no entanto, tem um tom menos astronômico por parte de Antunes; de acordo com o curador musical, a atuação comercial da banda poderia ser comparada com as outras bandas anteriormente consagradas, como AC/DC, Aerosmith e Scorpions, que produzem material novo, mas continuam apresentando grandes sucessos do passado em shows.
“O Queen seria essa banda dos anos 70 que possivelmente continuariam frequentando o Rock In Rio e, ao frequentar o Rock In Rio, bombariam e levariam um público gigantesco para lá. […] O Queen estaria sendo levado muito mais por sua relevância na história do que pelo momento. Não é por acaso que o Queen continua sem o Freddie Mercury, fazendo os shows com o Adam Lambert nos vocais — fazendo um ótimo trabalho — e levando multidões para estádios”, conclui Pedro.