O diretor do Hospital Geral de Vitória da Conquista, Geovani Moreno, participou da segunda live do projeto Câmara Cidadã nessa segunda-feira (29). Além de médico, ele é formado em Direito e foi convidado para participar da discussão sobre direitos dos pacientes em tempos de pandemia, ao lado da advogada Betânia Andrade, de Belo Horizonte (MG).
Localizado na Macrorregião Sudoeste e Microrregião de Vitória da Conquista, o HGVC atende 74 municípios da Bahia além de alguns pacientes de cidades fronteiriças do norte de Minas Gerais. Somente da microrregião de Vitória da Conquista são atendidos 19 municípios.
O médico aproveitou a oportunidade para relatar sua experiência como paciente da Covid-19. Ele foi infectado pelo coronavírus há cerca de 60 dias, ficou em isolamento e retornou ao trabalho após recuperação. Geovani chamou a atenção para a seriedade do momento e avaliou que esse é um marco para as gerações e especialmente para os profissionais de saúde. Ele também é coordenador médico da UTI 2 da Santa Casa de Misericórdia de Vitória da Conquista.
“Na verdade, o que a gente vê é uma doença de alta transmissibilidade; uma infecção que se transmite muito facilmente”, comentou ao falar sobre a gravidade da Covid-19.
O diretor do HGVC esclareceu que a doença apresenta taxa de letalidade alta em pacientes graves, podendo afetar não somente os pulmões, mas também causar inflamação em diversos órgãos do corpo humano como cérebro, coração e vasos sanguíneos.
Desafios do Brasil na pandemia
Geovani Moreno elencou quatro grandes desafios do Brasil no enfrentamento da pandemia da Covid-19. Ressaltou que o Brasil é um“país imenso, extremamente desigual, onde impera a desigualdade social, um desequilíbrio econômico-financeiro, que, em meio à pandemia, termina se mostrando de uma maneira muito clara”.
Em contraponto, lembrou que o Brasil tem o maior sistema gratuito e universal do mundo, o Sistema Único de Saúde (SUS). Informou que uma grande vantagem do sistema é garantir vigilância em saúde pública, destacando a importância das vigilâncias sanitária e epidemiológica.
Para ele, a fraqueza está na estrutura do sistema, número de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI), discrepância entre as regiões. Na opinião do diretor do HGVC, neste cenário de pandemia, o grande desafio é justamente a garantia de leito para o paciente grave.
O segundo desafio seria a garantia de suprimentos. Geovani Moreno citou como exemplo a crise no início da pandemia relacionada ao fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPIs), essenciais para o trabalho seguro dos profissionais de saúde.
Outro problema, segundo o médico, tem sido a falta de medicamentos sedativos para sedar e entubar os pacientes mais graves com a Covid-19 nas UTIs, uma demanda que tem sido levada por secretários municipais e estaduais da saúde ao Ministério da Saúde.
Em nota divulgada ontem, o Ministério da Saúde disse que está atuando para regular o abastecimento de anestésicos e relaxantes musculares nos hospitais. A pasta informou, ainda, que iniciou compras de urgência e de médio e longo prazo.
Para solucionar as necessidades de médio e longo prazo, o Ministério da Saúde avisou que fez interlocução com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) para importação dos medicamentos que a indústria brasileira não conseguir recolocar.
Por último, o diretor do HGVC salientou que ainda não existe cura para a Covid-19 e esse também é um desafio importante. Cientistas de diferentes países ainda buscam descobrir uma vacina contra a doença que já matou mais de 58 mil pessoas apenas no Brasil e mais de 505 mil no mundo.
De acordo com Geovani Moreno, não dá para se falar em retorno a uma situação normal como a anterior sem a vacina.
Pandemia no interior
Durante sua participação na live do projeto Câmara Cidadã, o diretor do HGVC também avaliou o avanço do coronavírus nos pequenos municípios baianos.
“Nas últimas semanas, houve um aumento no número de casos com a interiorização da doença, com a chegada da infecção nos pequenos municípios, que não têm suporte”, observou.
Ele explicou que muitos desses municípios de pequeno porte não têm uma estrutura hospitalar mínima para atender pacientes que precisam de internamento, restando apenas, como única alternativa, a transferência para unidades de referência.
“É evidente que os pequenos municípios da nossa região estão na fase acelerada da curva ainda”, revelou. Nesse sentido, advertiu sobre os riscos da baixa testagem. Exemplificou a importância da testagem ampla informando que o HGVC testa todos os seus 1.700 trabalhadores a cada três semanas.
Ao falar sobre sua experiência pessoal com a doença, destacou que a testagem é fundamental para garantir o isolamento necessário de pacientes infectados e, assim, evitar a propagação do vírus: “Quando a gente testa mais, a gente isola mais com mais propriedade e a gente previne a transmissão”.
Dessa forma, assegurou que a testagem e o monitoramento são essenciais para o controle do coronavírus. “A gente não sabe quem vai apresentar a forma grave da doença. Esse é um grande mistério ainda”, declarou.
Ao comentar sobre a gravidade da pandemia, abordou a questão da faixa etária dos mortos por covid-19 no Brasil: “A mortalidade é maior entre idosos e nas pessoas que têm comorbidades, mas morrem também pacientes jovens e sem comorbidades”.
Saúde em primeiro lugar
“Não há como dicotomizar o problema de saúde e o problema econômico. Há uma emergência sanitária. O problema econômico é decorrente da emergência sanitária. Não tem como se resolver um problema econômico sem resolver o problema sanitário, o problema de saúde pública”, ponderou o diretor geral do HGVC.
Ele disse que causa uma estranheza e preocupação a necessidade emergencial de colocar as atividades econômico-financeiras em funcionamento. “Não adianta a engrenagem toda voltar a funcionar se a população não tiver saúde”, opinou. Na avaliação do médico, que tem experiência tanto na gestão quanto na atuação como médico intensivista, o normal ainda está distante. “É preciso muita prudência neste momento”, recomendou.
Durante a live, o diretor do HGVC respondeu questionamentos de internautas, com mediação feita pela presidenta Naara Duarte (PSC). Ao responder uma dessas perguntas, informou que a Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista contratualizou dez leitos de UTI e 20 de enfermaria na Santa Casa (disse que parece ter havido uma ampliação para 15 leitos de UTI). Já o Estado tem na rede própria o HGVC com dez leitos de UTI e seis de enfermaria, que são isolamentos respiratórios, além de ter contratualizado leitos no IBR Hospital e no Hospital de Clínicas de Conquista (HCC). Ao todo, são quatro hospitais com leitos reservados para Covid-19, todos pelo SUS, em Vitória da Conquista.
ASCOM/CÂMARA