A atleta Camila Cavalheiro, 30 anos, é a primeira mulher brasileira a disputar a olimpíada do esporte sobre rodas, o World Roller Games (WRG 2019), em Barcelona (Espanha), na modalidade inline downhill, a mais rápida e radical da patinação, que pode alcançar velocidades acima de 100 quilômetros por hora (km/h). Os jogos ocorrerão no período de 4 a 14 deste mês.
O fato de ser a primeira mulher brasileira a participar do torneio a deixou bastante lisonjeada. “É um marco histórico para a patinação, principalmente na modalidade downhill, e estou muito feliz em poder representar o meu país”.
Camila vai disputar com as melhores mulheres do mundo em uma modalidade que não tem muitas representantes do sexo feminino. Enquanto a downhill terá 20 mulheres concorrendo, na ala masculina serão 50 atletas. A World Roller Games será disputada por mais de 100 países.
Por acaso
A paixão de Camila pela patinação surgiu em 2013, após entrar em uma loja de artigos esportivos e assistir a um vídeo sobre o esporte. No ano seguinte, ela participou do primeiro campeonato nacional, em Curitiba, e obteve seu primeiro pódio. Ela foi primeira colocada no jump (salto em altura) e terceira no slide (técnica de freios para mostrar habilidades). No total, a atleta já participou de sete competições de freestyle slide (modalidade de derrapagem).
Natural de Maringá (PR), Camila mora atualmente na região da Penha (SP). Pelo seu elevado rendimento no esporte, ela foi convocada pela Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP) para participar da competição internacional. Mas até que isso se tornasse realidade levou um bom tempo. A atleta teve, inclusive, que fazer uma ‘vaquinha’ online para conseguir viajar para Barcelona.
Alta velocidade
A competição terá início no dia 4, quando as atletas farão o reconhecimento da pista, conhecido como treino livre. No dia 5, elas descem sozinhas “e vão contra o relógio”, ressalta Camila Cavalheiro. “Tem que fazer uma descida o mais rápido possível. O resultado permite que as melhores consigam se classificar para as oitavas de final. Aí, eu já posso ganhar uma medalha como melhor descida”, salienta Camila.
Dependendo da classificação, vão sendo montadas as baterias de atletas para as finais. No dia 6, as desportistas disputam entre si até chegar à final. “Aí, decide. Vai ver quem será a campeã, quem desce primeiro”, afirma Camila. Nessa modalidade do ‘downhill’, as atletas podem pegar duas medalhas: pela descida e na competição de baterias. O retorno da atleta ao Brasil está programado para o próximo dia 10.
Avaliação
Para o diretor técnico do Comitê de Patinação Inline Downhill da CBHP, Dennis Henrique dos Santos Tavares, o fato de Camila ser a primeira atleta do Brasil nessa modalidade a representar o país em um campeonato de nível mundial “é um marco histórico para a modalidade. E ela tem um nível técnico muito bom, tem chance de trazer medalhas para o Brasil, o que é difícil nessa modalidade. Mas a gente está otimista”.
Tavares aposta que a ida de Camila para disputar o Roller Games de Barcelona abrirá caminho para que outras moças se interessem por essa modalidade de patinação. “Com certeza, porque hoje essa modalidade é vista muito como um esporte masculino, por ser de alta velocidade. É um esporte de alto risco, por isso não é comum ver mulheres praticando. Ela (Camila) mudou esse cenário. Hoje, os homens olham para elas e veem de forma diferente. Isso acaba incentivando outras mulheres a participar”.
O diretor explicou que o critério de avaliação de Camila foi puramente técnico. Outra atleta, de Belo Horizonte, a Ariele Matias, também foi bem avaliada tecnicamente, mas não conseguiu recursos para viajar. Ele acredita que no próximo ano, a CBHP terá condições de promover um campeonato feminino na modalidade. “Aos poucos, a gente vai aumentando o número de participantes”, disse Tavares.