O deputado federal baiano que mais votou contra o meio ambiente é o mesmo que recebeu a maior quantia de empresas com problemas com órgãos de defesa ambiental. Quatro empresas autuadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) doaram, somando os valores, R$ 528.398 mil a João Bacelar (PR-BA), conhecido como “Jonga Bacelar”.
De acordo com levantamento realizado pela ONG Repórter Brasil, com apoio da Fundação Ford e DGB Bildungswerk, a empresa Torc Terraplenagem Obras Rodoviárias e Construções realizou uma doação indireta de R$ 225 mil para o deputado; a Salobo Metais doou R$ 100 mil; S.A Paulista de Construções e Comércio R$ 200 mil; e Cervejaria Petrópolis R$ 3.398 mil.
As doações foram realizadas durante campanha de 2014. Jonga declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ser proprietário da Fazenda Palmeirinha, com o valor não atualizado de R$ 50 mil. De acordo com a Receita Federal, ele é sócio, administrador e/ou proprietário da JB Empreendimentos e Participações, com capital social não declarado
.A empresa da qual o deputado federal é sócio recebeu sete autos de infração em fiscalização do Ministério do Trabalho. Foi autuada em 2015 por irregularidades trabalhistas relacionadas a registro em carteira, seguro-desemprego, equipamento de proteção individual e segurança e saúde no trabalho rural.
Mais doações
Apesar de registrar votações consideradas por entidades de defesa ambiental como positivas para o meio ambiente, Nelson Pelegrino (PT-BA) foi o segundo deputado federal que mais recebeu doações de empresas com problemas com órgãos de defesa ambiental.
Segundo o levantamento, ele recebeu R$ 386 mil de quatro empresas autuadas pelo Ibama, ou flagradas em trabalho escravo.
A Sertenge e a Gráfico Empreendimentos, empresas envolvidas em trabalho escravo, doaram diretamente para o deputado federal R$ 3 mil, cada uma. Já a Alesat Combustíveis e a Cervejaria Petrópolis doaram, de forma indireta, R$ 190 mil cada uma. As duas foram autuadas pelo Ibama.
O terceiro colocado no ranking de recebimento de doação por empresas com problemas legalmente é o deputado federal José Rocha (PR-BA). Doações registradas em 2014 apontam que ele recebeu, ao todo, R$ 322.370 mil de empresas autuadas pelo Ibama.
A Andrade Galvão Engenharia doou diretamente a Rocha R$ 5 mil; Construtora Andrade e Gutierrez doou indiretamente R$ 200 mil; Cervejaria Petrópolis realizou uma doação indireta de R$ 3.370 mil; e pelo próprio deputado, que investiu R$ 57 mil.
Proprietário de cinco fazendas espalhadas pelo estado, além de uma porção de terra em Bom Jesus, José Rocha é dono de uma terra em Coribe embargada por desmatar florestas ou demais formas de vegetação, sem autorização do Ibama, com multa de R$ 5 mil.
Histórico negativo
O Ruralômetro também registra dados de ex-deputados. José Carlos Aleluia (DEM-BA) ocupa, desde 29 de maio, o cargo de assessor especial do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS). Porém, enquanto deputado federal, o parlamentar recebeu um montante de doações de empresas com problemas com órgãos de defesa ambiental no valor de R$ 572 mil.
Segundo o levantamento, a empresa Cia de Ferro Ligas da Bahia (Ferbasa) doou diretamente ao então deputado, em 2014, R$ 70 mil; Gráfico Empreendimentos R$ 1 mil; Construtora Queiroz Galvão doou indiretamente R$ 100 mil; JSL também R$ 100 mil; Construções e Comércio Camargo doou mais R$ 100 mil; Cervejaria Petrópolis doou R$ 200 mil; e Walter Nunes Seijo Filho doou diretamente ao parlamentar R$ 500.
Todas as empresas, exceto Gráfico Empreendimentos, envolvida com trabalho escravo, foram autuadas pelo Ibama. Walter Nunes também foi flagrado em trabalho escravo.
“Desconheço”
Por meio de nota, Jonga Bacelar afirmou que “não tem conhecimento de que as empresas doadoras foram autuadas pelo Ibama ou qualquer outro órgão ambiental”. Ele ainda garantiu que “as doações foram feitas de forma legal e declaradas na prestação de contas do Parlamentar”.
O deputado José Rocha negou qualquer irregularidade. “2014 já morreu há muito tempo, mas o quê que você quer? Eu não recebi da Andrade [Gutierrez], quem recebeu foi o partido. O partido recebeu, cria um bolo só”, afirmou ao Bnews. Ele também disse que desconhece representantes das outras empresas doadoras.
Sobre a multa sofrida por desrespeitar diretrizes do Ibama, o parlamentar admitiu a irregularidade e o pagamento da multa no valor de R$ 5 mil. “Isso é assunto morto há muito tempo”, bravou.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de Nelson Pelegrino, mas não obteve uma resposta até a publicação desta matéria.
Fonte: Bocão News