Popularmente conhecido como zumbido, o tinnitus ou acúfeno é semelhante ao som de apito, cachoeira ou mesmo de uma cigarra, e chega a incomodar 28 milhões de brasileiros de diferentes idades. É provável que, em algum momento da sua vida, você ouça esse famoso barulhinho.
O som, por si só, não é uma doença, mas pode representar um sinal de que algo não vai bem com a saúde auditiva. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que o problema afeta 280 milhões de pessoas no mundo.
Trata-se de um som que é percebido pela pessoa quando nenhuma fonte externa o produz – uma espécie de barulho fantasma, que surge em algum ponto da via auditiva e se estende até o córtex auditivo, no cérebro.
Os sons são avaliados nas áreas subcorticais do sistema nervoso central. Quando não são considerados importantes, acabam descartados e não os percebemos. É o que ocorre, por exemplo, com algum barulho de fundo no ambiente, como de um ar-condicionado. Mas, se considerados relevantes, os sons são conduzidos até o córtex para serem percebidos de forma consciente. É o processo que ocorre com o zumbido.
De acordo com o responsável técnico pela otorrinolaringologia da Rede D’Or, Márcio Nakanishi, o zumbido é apenas um sintoma, como a febre e a dor. Não se trata de uma doença. “Ele pode ser indício de algum outro problema que, na maioria dos casos, é algo nada grave”, diz o médico. “Mas é essencial que a causa do som constante seja detectada.”
Classificado em transitório ou persistente, na segunda opção o zumbido apresenta-se em 17% da população. Em até 20% dos casos diagnosticados, pode ser considerado severo, o que representa grande impacto na qualidade de vida do paciente. Segundo a American Public Health Agency, é o terceiro sintoma que mais causa incômodo, perdendo apenas para dores e tonturas intensas.
A lista de possíveis causas é longa e engloba fatores determinantes, como bruxismo, transtornos da mastigação, alterações musculares, cardiovasculares e neurológicas, distúrbios psiquiátricos e até tumores na via auditiva. O risco de algo mais grave surgir a partir do zumbido pode ser zero, em casos como acúmulo de cera, explica Nakanishi. “Mas uma infecção no ouvido pode se espalhar para outros lugares”, alerta.
A recomendação é procurar ajuda médica logo nos primeiros sinais. “É essencial que um profissional seja consultado, para que a causa do problema seja estudada e solucionada o quanto antes”, orienta o médico.
Como se manifesta em condições diferentes, o tratamento deve ser individualizado. Em casos relacionados à perda auditiva, um dos tratamentos mais utilizados para aliviar o desconforto do zumbido é a reabilitação com uso de aparelhos auditivos.
Palavra do especialista
O zumbido pode surgir como efeito colateral de algum remédio?
Sim. Existem medicamentos ototóxicos, ou seja, que são tóxicos para a orelha interna, que podem gerar tanto o zumbido quanto a perda auditiva. Quando o histórico do paciente é analisado pelo médico, é preciso ficar atento a essa questão.
Existem níveis de gravidade do zumbido?
A gravidade varia, na verdade, com a causa do problema. Mas podemos relacioná-la às características do zumbido, que são: intensidade, duração e tipo de ruído.
Alguma faixa etária específica é mais afetada pelo problema? Crianças também podem ter?
Nenhuma pessoa está completamente livre do zumbido no ouvido. Até mesmo crianças podem sofrer com a complicação, mas, devido ao aumento da incidência da perda auditiva, os adultos e idosos são os mais afetados.
Rafaela Aquino é otorrinolaringologista, especialista em ouvido, do Hospital Santa Luzia em Brasília.
Sintomas
– Ouvir sons que não vêm de qualquer fonte externa.
– Os sons fantasmas variam entre toques, cliques, zumbidos, ruídos, barulhos que lembram uma cigarra, um rádio ou até mesmo um jato de água.
– O zumbido pode surgir em um ouvido de cada vez (unilateral) ou em ambos (bilateral)
Causas
– Históricos de distúrbio ou infecções do ouvido
– Algum grau de perda auditiva
– Acúmulo de cera no ouvido
– Transtornos cardiovasculares que afetam o fluxo sanguíneo, as artérias e os nervos
– Acúmulo de colesterol nos vasos sanguíneos
– Pressão alta
– Exposição prolongada a sons altos
– Problemas odontológicos referentes ao abrir e fechar da boca
– Deficiência de zinco
– Em casos mais graves, tumor na via auditiva
Grupo de risco
– Pessoas que fumam ou ingerem bebidas alcoólicas com muita frequência têm maior risco de desenvolver o zumbido
Diagnóstico
Para diagnosticar o problema e detectar a origem do zumbido é feita uma série de exames, como:
– Exame físico detalhado da parte otológica
– Avaliação audiológica complementar, para avaliar possíveis perdas auditivas
– Exames complementares de imagem do aparelho cardiovascular ou análise de ortodontistas e fisioterapeutas
Tratamento
– É necessário descobrir a causa do problema
– Quando o transtorno está relacionado à perda da audição, é indicado o uso de aparelho auditivo
– Quando não se detecta uma causa, profissionais da área costumam indicar as terapias cognitivo-comportamentais e de retreinamento do tinnitus, entre outras
– A terapia cognitivo-comportamental visa reestruturar os pensamentos negativos desencadeados pela percepção do zumbido
– O retreinamento do tinnitus é uma terapia moderna, que une o aconselhamento terapêutico ao enriquecimento sonoro e treina o cérebro para filtrar e descartar o estímulo do zumbido
Cuidados
O que se deve evitar:
– Alimentos com muita cafeína e açúcar, como Coca-Cola, chocolate, café, bebidas energéticas.
– Exposição ao som alto.
– Uso de cotonetes.
– Bebidas alcoólicas e tabaco.
Fonte: Correio Braziliense
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