Prevista como uma das novidades da reforma trabalhista , que começa a valer no sábado (11), a jornada de trabalho de 12 de horas de atuação seguida por 36 de folga será estendida a todas as categorias.
Quem já vive essa rotina diz que ela tem lados positivos e traz vantagens. Porém, é preciso adaptar toda a vida em torno disso.
A jornada 12×36 é algo restrito hoje a algumas categorias. Ela foi regulamentada em setembro de 2012, quando o TST (Tribunal Superior do Trabalho) acolheu sugestão do juiz do trabalho Homero Matheus Batista da Silva para que fosse criada uma súmula estabelecendo regras. Para ser autorizada, porém, a jornada precisa ser acordada em convenção coletiva –o que não vai ser mais necessário após a reforma.
Acostumado a não ter duas folgas
O vigilante Marcos José, 50, atua na função há pelo menos 25 anos –quase sempre fez a jornada 12×36. Ele diz que acha “ótima” a rotina. “A gente já é acostumado a não ter dois dias seguidos de folga, mas o bom é que você trabalha um dia e folga outro; isso ajuda a evitar estresse quando a gente passa por uma irritação, por exemplo”, conta.
Outro setor que costuma usar com frequência a jornada é o de saúde, especialmente em emergências. A técnica de radiologia Cris Silva, 46, atua há pelo menos 10 anos na função com esse tipo de rotina de trabalho em Maceió (AL).
“Para mim, é bom porque tenho outro emprego, onde dou plantão por 24 horas. Aí consigo fazer sem problemas”, diz.
Segundo Silva, a jornada dá essa possibilidade de se adequar a outros empregos e programar viagens. É comum funcionários do hospital onde trabalha trocarem plantões. “Acontece muito, especialmente quem tem outro emprego, como eu.”
O porteiro Jeferson do Livramento Silva, 20, é mais novo na rotina: atua há 10 meses em um condomínio. Para ele, a jornada é boa, mas é necessário planejamento. “Eu tenho que me programar para resolver as minhas coisas, como fazer exames médicos, pagamento de contas”, afirma, aprovando a rotina. “Eu indico a jornada para outras categorias, sim. Fica até melhor de trabalhar.”
Problema seria a carga, não a jornada
Segundo a psicóloga do trabalho e especialista em gestão de pessoas Karoline Felix, o novo esquema por si só não deve ser encarado como um problema, nem solução. “A questão não é a jornada, mas a carga de trabalho. Isso é mais importante”, diz a profissional, que que atua no Cerest (Centro de Referência de Saúde do Trabalhador) de Maceió.
Para ela, a extensão dessa jornada a todos os setores pode ser especialmente danosa às áreas em que os profissionais são mais exigidos.
“Uma carga intensa de trabalho de 12 horas, onde o trabalhador atua sem parar, pode trazer problemas como a síndrome de burnout [esgotamento profissional]; pode ter também o que chamamos de neurose profissional, quando não consegue se desligar de trabalho; sem contar síndrome de pânico, transtorno de ansiedade generalizada, e as questões físicas, como LER [lesão por esforço repetitivo], Dorts [Doenças Osteoarticulares Relacionadas ao Trabalho] e perda auditiva –se for em local com excesso de barulho”, diz.
Outra questão levantada por ela é a subjetiva, já que as rotinas diferentes podem apresentar adaptações distintas. “Nem toda pessoa se adapta. Isso vai depender muito de como é a rotina de família ou como lida com as folgas, por exemplo”, pontua.
Fonte: UOL