Médicos e pessoas com hepatite C estão vivendo uma expectativa positiva. A Tribunaapurou que o Ministério da Saúde vai alterar o protocolo de tratamento da doença, ampliando o número de pacientes que poderão ter acesso a daclatasvir, simeprevir e sofosbuvir, medicamentos capazes de curar a doença.
O Ministério não confirma as informações, porém dois médicos infectologistas consultados pela Reportagem confirmaram que as novidades deverão ser anunciadas pela pasta na próxima sexta-feira, quando é celebrado o Dia Mundial das Hepatites Virais.
“Participei hoje (ontem) de um evento no Rio de Janeiro e essa informação foi confirmada por representantes do Ministério da Saúde. O novo tratamento disponível no SUS (Sistema Único de Saúde) está curando 98% dos pacientes”, explica Evaldo Stanislau, chefe do setor de infectologia do Hospital Ana Costa, de Santos.
De acordo com o protocolo que ainda está em vigência, apenas aquelas pessoas que estão dentro dos graus mais severos do comprometimento do fígado podem ter acesso ao tratamento com as drogas mais avançadas e eficazes. Quem tem os graus menos agressivos acabam esperando a piora.
Antes de outubro de 2015, quando o tratamento era feito com a combinação do antirretroviral Interferon com outros medicamentos, a cura se limitava a 60% dos pacientes. Até então, era comum que, poucos meses depois, o paciente tivesse uma surpresa: o vírus da hepatite C voltava a aparecer no exame de sangue.
Cinco graus
A hepatite C, causada pelo vírus HCV, é uma doença silenciosa que costuma apresentar sintomas apenas em sua forma avançada – quando o fígado do paciente já se encontra comprometido. Há cinco graus de comprometimento, medidos de acordo com a fibrose no órgão — vai do F0 até o F4.
Além da expectativa do acréscimo dos pacientes com diagnóstico para F2, outra alteração que deverá acontecer no protocolo de tratamento da hepatite C envolve os pacientes com o genótipo 3 do vírus.
“O tratamento deverá ser ampliado. Atualmente, deve ser feito em 12 semanas de medicamento. Agora, poderá tratar por 24 semanas o paciente com cirrose. Confirmando-se essa mudança, isso é um ganho porque dá mais garantia de efetividade de ação”, fala Stanislau, que também é pesquisador.
Segundo o infectologista Marcos Caseiro, essas orientações já foram aprovadas pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), vinculada ao Ministério da Saúde. “A indicação é que se inclua o máximo possível de pessoas, para poder erradicar os casos de hepatite C”.
Desafios
O Brasil distribui desde 2011 testes rápidos para a detecção da enfermidade. A cada ano, cerca de 3 mil mortes são associadas à hepatite C. Atualmente, não há vacina para doença.
“Muita gente ainda não sabe que tem hepatite C. Por isso, é importante, sobretudo quem tiver mais de 45 anos, que a pessoa faça o exame ao menos uma vez por ano”, explica Stanislau.
Nas décadas de 80 e 90, a exposição ao vírus acontecia majoritariamente com transfusão de sangue, hemodiálise, uso de drogas injetáveis, compartilhamento de objetos de uso pessoal, sexo desprotegido e na confecção de tatuagens.
De 1999 a 2015, foram notificados no Brasil 152.712 casos de hepatite C, sendo 89.858 (58,8%) entre homens e 62.796 (41,2%) entre mulheres. Segundo Stanislau, há a expectativa de existência de até 2 milhões de pessoas que vivam com hepatite C — número 13 vezes maior aos notificados.
Fonte: A tribuna