
Melhorias feitas no áudio da conversa, que foi gravada por Joesley secretamente, permitiram aos peritos da PF reconstituir trechos do diálogo que antes estavam inaudíveis, segundo o laudo da polícia.
No encontro, Joesley afirma ter ouvido do ex-ministro Geddel Vieira Lima que houve empenho e esforço com “o BNDES e aquela operação lá”.
De acordo com trecho que os peritos da PF dizem ter recuperado agora, o presidente da República responde então ao empresário: “Sabe que eu fui em janeiro pressionar”.
O contexto da conversa sugere que a pressão relatada por Temer ocorreu sobre a então presidente do BNDES, Maria Silvia Marques Bastos. Isso porque, um pouco mais adiante, o peemedebista completa: “Muito recentemente eu a chamei, porque ela tá travando muito crédito”, de acordo com transcrição feita pelos peritos da PF.
“Eu chamei e ela veio me explicar”, disse Temer. Ele relata então o diálogo travado com Maria Silvia. “Aquele [ininteligível] da JBS, deu para fazer [ininteligível]?”, perguntou Temer, segundo a PF. “Nós fizemos de outro jeito que deu certo”, disse a presidente do BNDES, sempre de acordo com o que a PF afirma que Temer disse na conversa.
O encontro do presidente com Joesley Batista ocorreu no dia 7 de março deste ano no Palácio do Jaburu, em Brasília. Em 2016, a JBS anunciara um plano de reestruturação, mas teve de cancelá-lo após o veto do BNDES, cujo braço de investimentos, o BNDESpar, é sócio da JBS.
A intenção da família Batista era transferir a sede da empresa para a Irlanda, transformando a operação brasileira em uma subsidiária dessa companhia internacional, e lançar ações da nova JBS na Bolsa de Nova York.
O plano foi divulgado em 11 de maio de 2016, um dia antes de Michel Temer assumir a presidência interinamente, com o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) pelo Senado. Os investidores adoraram a ideia e as ações se valorizaram em seguida.
Mas os Batista não conseguiram aval do BNDES e, no final de outubro, abandonaram o projeto. Em nota divulgada na ocasião, o banco afirmou que a proposta implicaria na “desnacionalização” da gigante de alimentos e que a vetara porque não atendia “aos interesses da companhia e de seus acionistas”.
O Banco afirmou na semana passada que Maria Silvia tratou do assunto com Temer num encontro em 24 de outubro de 2016, quando teria comunicado ao presidente a decisão de vetar a operação. Ela nega ter sofrido pressões.
As ações da JBS sofreram um baque após o veto do banco. Mas a queda no preço dos papéis foi logo recuperada com a divulgação, em 5 de dezembro de 2016, de um novo plano. A JBS anunciou no início daquele mês que sua sede permaneceria no Brasil e que, nos EUA, seriam lançadas ações de uma subsidiária, a JBS Foods International.
A Presidência da República não quis comentar os trechos recuperados pelos peritos da PF. O BNDES afirmou que o único encontro entre Maria Silvia e o presidente para tratar da mudança da sede da JBS foi o ocorrido no dia 24 de outubro de 2016. Segundo o banco estatal, não houve outra reunião com Temer sobre esse assunto.
CRONOLOGIA
A JBS e sua relação com Temer e o BNDES
11.mai.2016
JBS anuncia plano de reestruturação, que prevê transferência da sede para a Irlanda e abertura do capital em Nova York
12.mai.2016
Michel Temer assume a Presidência interinamente
24.out.2016
Temer discute o caso da JBS com a presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, no Rio
26.out.2016
BNDES anuncia veto à operação, e JBS anuncia que abandonou o plano
5.dez.2016
JBS anuncia novo plano de reestruturação, com lançamento de ações da subsidiária JBS Foods International em Nova York
7.mar.2017
Joesley encontra Temer no Palácio do Jaburu e grava conversa clandestinamente
16.mai.2017
Com a empresa atingida por várias operações policiais, Wesley Batista diz que adiou planos de IPO
17.mai.2017
“O Globo” revela o acordo de delação premiada dos irmãos Batista e a gravação da conversa com Temer
Fonte: Folhapress / Bocão News