Um estudo realizado pela Proteste identificou a presença da bactéria Salmonella em contrafilé da distribuidora FriBoi, pertencente ao grupo JBS. A associação analisou amostras de carnes bovinas, embutidos e cortes de frango de 26 marcas coletadas em redes de supermercado localizadas no Estado de São Paulo. Foram coletadas amostras de contrafilé, fraldinha, picanha, linguiça suína, salsicha mortadela e filé de peito de frango.
Em uma amostra de contrafilé da Friboi, foi verificada a presença de Salmonella, bactéria que afeta o intestino e que pode causar diversas doenças, em quantidade acima do limite permitido pela legislação. De acordo com a Proteste, esse micro-organismo deve estar ausente em 25g do produto, o que não ocorreu com a carne da Friboi. Assim, o produto estaria “impróprio para o consumo humano”, segundo a entidade de defesa do consumidor. O lote analisado pela Proteste é o de data 27/02/2017, de SIF 3181.
A FriBoi respondeu ao UOL que o método analítico utilizado pela Proteste “não é o indicado para a pesquisa do micro-organismo citado”. A empresa também afirma que “o laudo apresentado não atende ao padrão estabelecido pela norma técnica da ABNT ISO/IEC 17025, que atesta se o laboratório possui todos os requisitos para a realização de estudos”.
Procurada pelo UOL, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirma que o estudo da Proteste é considerado válido. Para órgão, que é responsável pelo controle sanitário de produtos e serviços, inclusive alimentos, as amostras para testes devem ser coletadas em quantidade que permita contraprova. Já o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) diz que reconhece apenas as análises feitas na rede de laboratórios oficiais.
A nota divulgada pela proteste não informa quais foram as quantidades de micro-organismos identificadas nas amostras e não detalha as características do estudo. A entidade diz que enviou os resultados para a Anvisa, exigindo maior fiscalização, e para o MAPA, pedindo mais detalhes sobre todos os produtos coletado e esclarecimentos sobre quais medidas serão tomadas. A Anvisa e o MAPA, contudo, dizem que não foram notificados.
De acordo com a Proteste, a ação tem como objetivo avaliar se os produtos comercializados em diversos estabelecimentos também apresentam as inconformidades reveladas na Operação Carne Fraca. Deflagrada em março pela Polícia Federal, a operação apontou problemas graves na cadeia de produção de carnes e embutidos, como venda de alimentos adulterados ou podres, uso de produto químico para mascarar o aspecto ruim da carne, re-embalagem de produtos vencidos e corrupção de fiscais e autoridades. Foram encontradas bactérias em carnes de 2 de 21 empresas investigadas.
Cinco marcas tinham “condições insatisfatórias”, diz Proteste
A Proteste também encontrou a bactéria Listeria monocytogenes em amostras de produtos das marcas Naturafrig, FriAlto, Better Beef, Marfrig e Seara em quantidade considerada pela entidade como acima das “condições satisfatórias”. Consultado pelo UOL, o MAPA afirma que não há problemas e nem limite específico estipulado para a presença desse micro-organismo em carne crua.
A Proteste foi procurada pelo UOL para esclarecer por que considera que “as condições satisfatórias incluam a ausência desse micro-organismo em 25g de amostra”, como informa na nota de divulgação do estudo. Contudo, não respondeu à reportagem.
Procuradas pelo UOL, as empresas citadas no estudo da Proteste afirmam que os resultados apresentados pela entidade estão de acordo com o perfil nacional e internacional para carnes cruas.
Friboi diz que estudo da Proteste não segue padrões
De acordo com a FriBoi, não foi registrado nenhum problema relacionado à presença de Salmonella em amostras de carne da marca em seus canais de relacionamento com o consumidor. Em nota, a empresa diz que “são feitas, em média, 2,3 mil análises mensais para pesquisa de microrganismos Salmonella com métodos analíticos indicados para pesquisa em carne in natura, aprovados por órgãos internacionais e validados por comparação com ISO 6579″.
O UOL questionou a Proteste sobre a adequação à norma técnica ISO/IEC 17025 de seus laboratórios. A associação ainda não respondeu.
Empresas questionam validade do estudo da Proteste
A Seara enfatiza que “os resultados apresentados pela Proteste estão de acordo com o perfil nacional e internacional para carnes cruas”. De acordo com a Seara, “não há registro de qualquer não conformidade com o produto filé de peito de frango da marca”. Sobre o estudo da Proteste, a empresa diz ainda que “não teve acesso à metodologia adotada nos testes de seus produtos, laboratórios em que foram realizados, locais em que foram adquiridos, condições em que os produtos foram armazenados e critérios adotados”.
A Naturafrig diz que “não recebeu nenhuma comunicação da Proteste anterior à publicação da matéria, com informações a respeito das análises que foram realizadas em produto de nossa marca. Portanto, não tivemos acesso ao laudo de análise, para verificação da veracidade dos resultados”. A empresa diz ainda que “para a credibilidade de uma notícia dessa natureza, o laboratório deve ser não só certificado e credenciado no órgão competente, como também declarar que a metodologia aplicada seguiu”.
A Marfrig dia que “tem um rigoroso processo de garantia da qualidade e de segurança alimentar, mantendo toda a documentação pertinente aos testes realizados em amostras coletadas de cada lote”. Segundo a empresa, “as unidades de produção passam por auditorias periódicas realizadas por empresas independentes”. A Marfrig diz que, “com relação ao lote mencionado, não houve detecção de presença da bactéria citada nos testes feitos nas amostras coletadas”
A Vale Grande, empresa detentora da marca FriAlto, diz que “a empresa não teve acesso ao teste realizado, nem mesmo as especificações metodológicas do ensaio realizado e do laboratório”. Segundo a marca, “os laboratórios que a empresa utiliza para seus testes são terceirizados e atendem os requisitos legais preconizados nas normativas vigentes”. A Vale Grande diz ainda que não teve nenhum ensaio com presença da Listeria monocytogenes detectada.
A Better Beef disse, por telefone, que não recebeu os resultados do estudo e que não foi notificada pela Proteste sobre o estudo divulgado pela entidade. A empresa afirmou, por meio de sua veterinária responsável, que em nenhum lote de produto da empresa foi verificada a presença da bactéria Listeria monocytogenes e que seria necessário saber quais foram as condições do teste realizado pela Proteste, de como as amostras foram coletadas, quais eram as condições da coleta, bem como a possibilidade de realização de contraprova.
Todas as empresas dizem que seguem as exigências do MAPA e que realizam testes para assegurar a qualidade e a segurança de seus produtos.
Fonte: Uol Noticias
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