A seleção brasileira já não é dependente de Neymar para fazer gols como era com Dunga. Entre os quatro treinadores que trabalharam com o atacante a serviço do time principal do Brasil, o antecessor era aquele com maior dependência. Um dos êxitos em sete jogos sob o comando de Tite é, justamente, inverter essa lógica.
Dos 19 gols marcados pelo Brasil de Tite em seis partidas que Neymar iniciou, cinco foram de autoria dele. Significa, na prática, uma dependência de 26% dos gols feitos pelo Brasil.
Com Dunga, esse número era a maior em sete anos a serviço da seleção: dos 32 gols feitos pelo Brasil nas partidas em que ele atuou, 11 foram do próprio Neymar. A dependência, que com Tite é de 26%, sobe para 34% com o antecessor.
Um fator alarmante durante o trabalho de Dunga relacionado ao atacante também foi a quantidade de ausências, sempre por suspensões, o que torna a dependência um problema, de fato, para a equipe. Das seis partidas do antecessor de Tite nas Eliminatórias, Neymar só havia jogado três. Com Tite, atuou seis de sete, e está confirmado na oitava – nesta terça, diante do Paraguai, na Arena Corinthians. O jogo está marcado para 21h45 (de Brasília).
Tite prefere equipe com responsabilidades divididas
Em seus nove meses à frente da seleção brasileira, Tite sempre buscou meios de amenizar a importância do principal jogador no time. Uma das maneiras está no fato de que todos os jogadores participam da construção. A circulação de bola é atribuição dos integrantes da defesa e, em geral, só chega em Neymar a partir da intermediária ofensiva. Nessa fase do jogo, claro, há confiança total no que o camisa 10 é capaz de realizar.
“Neymar é um craque”, disse Philippe Coutinho. “Como todos podemos ver, um cara que decide muitos jogos, fundamental na nossa seleção. Eu o conheço há bastante tempo, jogar ao lado dele se torna um pouco fácil. É bom para a gente porque toca a bola nele que ele resolve”, atestou o meia do Liverpool. Não tem sido sempre assim com Tite, entretanto.
Dos quatro gols marcados na última quinta pelo Brasil no Uruguai, por exemplo, Neymar só participou diretamente em um, feito por ele próprio com grande estilo, de cobertura. Os demais, anotados por Paulinho, surgiram em lance individual (primeiro), construção de Dani Alves e Firmino (segundo) e assistência de Dani Alves (terceiro).
O que, vale frisar, não retira de Neymar sua grande atuação em Montevidéu. Um lindo lance já nos primeiros minutos mostrou isso: com uma arrancada vertical pelo centro, ele serviu Coutinho na direita, que rolou para Firmino perder na pequena área uma oportunidade incrível. Tite quer o atacante do Barcelona assim: participativo na construção e nas conclusões, mas apenas uma das alternativas.
“Sempre falei que nunca existiu dependência, é seleção brasileira”, comentou Neymar na terça. “Nossa equipe, na minha opinião, se estiver focada, é a melhor. Nós sabemos disso, temos humildade de reconhecer o potencial do adversário e sabemos que temos que jogar para isso. Antes, tentávamos de tudo, mas não encaixava uma peça ou outra no campo. O professor conseguiu ajustar, nos moldar da forma correta, da forma brasileira, e passamos a jogar futebol. Não mudaram tantos jogadores assim, só o jeito de jogar, e começaram a aparecer as qualidades. Sempre falei que a seleção tinha muitos jogadores de qualidade”, opinou.
Gabriel Jesus virou goleador. E Neymar gosta da ideia
Acostumado a ser o homem gol da seleção – é, aos 25 anos, o quarto maior artilheiro da história da equipe, atrás apenas de Pelé, Zico e Romário, Neymar passou a dividir a responsabilidade com Gabriel Jesus. Mesmo jovem, com 19 anos, o novo centroavante tem os mesmos cinco gols que o colega sob o comando de Tite. Nesta terça, vale lembrar, quem joga na frente é de novo Firmino.
Essa situação que envolve Gabriel Jesus, por sinal, não é vista como um problema pelo estafe de Neymar. Do contrário: a ideia de seu pai e sua equipe é que os ombros do jogador estivessem cada vez mais leves para expressar suas qualidades da melhor maneira.
Uma das estratégias de Tite nesse sentido foi acatar sugestão do próprio Neymar e dar a braçadeira a diversos outros colegas. Sem se importar em ser capitão, como no período de Dunga, o atacante está cada vez mais distante de confusões em campo, o que era um desejo expresso do treinador ao assumir a equipe. De fato, até aqui, Neymar recebeu um amarelo em seis jogos com ele.
Confira a dependência de cada treinador com Neymar na seleção*:
Mano Menezes (2010/12) – 17 de 52 gols da seleção – 32%
Luiz Felipe Scolari (2013/14) – 18 de 70 gols da seleção – 25%
Dunga (2014/16) – 11 de 32 gols da seleção – 34%
Tite (2016/17) – 5 de 19 gols da seleção – 26%
Obs.: contabilizados gols apenas das partidas em que o atacante jogou.
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