Ao disputar a Prefeitura de Lagoa dos Três Cantos (RS), o candidato Dionisio Wagner (PP), 50, já tem uma certeza: será eleito. Isso porque ele é o único cidadão que se candidatou ao cargo na pequena cidade gaúcha, localizada a 283 quilômetros de Porto Alegre. De acordo com a legislação eleitoral, mesmo havendo apenas um candidato a prefeito, é necessária a realização do pleito.
Se ninguém, nem o próprio candidato, votar na única opção apresentada na urna, será preciso organizar uma nova eleição. Para se eleger, Dionisio precisará da maioria absoluta, excluídos os votos brancos e nulos; ou seja, apenas de um voto. E, claro, pode ser o dele mesmo.
Candidatura única, porém, não é algo incomum na cidade gaúcha, que tem 138 km² de área e 1.598 habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Criada em 1º de janeiro de 1993, ela teve, até hoje, cinco eleições municipais.
Delas, duas tiveram candidatos únicos e três com apenas duas opções a seus 1.552 eleitores. Em quatro, a vitória foi do PP, de Dionisio –que já foi vice-prefeito da cidade. A única derrota veio na última eleição, em 2012, quando perdeu para Sérgio Lasch, do PTB, por uma diferença de 23 votos.
Dionisio não é o único candidato a prefeito com a vitória garantida. Ao menos 97 cidades enfrentam a mesma situação, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O número de municípios com esse cenário ainda pode aumentar, pois candidaturas em cidades com dois ou mais postulantes ao cargo podem ser indeferidas pela Justiça.
A maioria das candidaturas únicas está no Rio Grande do Sul (32) e é do PP ou do PMDB (com 19 candidatos únicos cada um).
A opção também é escassa para os habitantes de 2.620 cidades. Nelas, a eleição para prefeitura será disputada por apenas dois candidatos. Juntas com as 97 que têm apenas uma candidatura, elas representam 48,8% das cidades brasileiras. Ou seja, metade do país não terá mais do que duas opções na urna no dia 2 de outubro.
Por que só um candidato?
Lagoa dos Três Cantos terá candidatura única por um desejo da população, segundo o próprio Dionisio disse ao UOL. “Em julho, foi feita uma pesquisa e 70% da população disse que queria uma candidatura única ou de consenso”, contou o candidato. Na mesma pesquisa, foi verificado que 50% eram favoráveis ao nome do pepista como candidato e 36%, ao de Juliane Raquel Kempf (PMDB), atual vice-prefeita da cidade. A pesquisa foi feita pela “Empresa Atual” e ouviu 166 pessoas, pouco mais de 10% da população. Ela não foi registrada no TSE.
“Conversamos com a vice e vimos que era o momento de deixar as diferenças políticas de lado”, disse o agricultor. Os dois, então, optaram por formar a chapa única, encabeçada por Dionisio em razão da maior porcentagem apresentada na pesquisa.
Além de unir PMDB e PP, a coligação trouxe o PDT. O outro partido que tem representação é o PTB, do atual prefeito Lasch. Procurado pelo UOL, Lasch disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não tinha interesse em disputar a reeleição.
Do próprio bolso
Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o limite de gasto para a campanha na cidade gaúcha é de R$ 108.039,06. Dionisio, porém, espera usar, no máximo, apenas 10% desse valor, cerca de R$ 10 mil. “Como uma cidade pequena, temos grande dificuldade para obter recursos do fundo partidário. Então, essa campanha será custeada pela minha pessoa e pela pessoa da vice-prefeita”.
“Nossa campanha é de gastos reduzidos. Para os programas de rádio, contratamos, por R$ 4.000, uma empresa para fazer trabalho de mídia”. O restante da verba será usada para pagar os serviços de estrutura jurídica e contábil, comprar material de campanha e custear o transporte, segundo o candidato e seu assessor, o ex-prefeito da cidade Edio Schrader.
Até quarta-feira (7), a página da candidatura no TSE apresentava registro de doações recebidas no valor de R$ 2.000, sendo R$ 1.000 do próprio Dionisio e outros R$ 1.000 de Juliane. Os gastos realizados totalizam R$ 1.380.
Apesar de não ter concorrentes, o candidato solitário têm direito à propaganda gratuita nos veículos de comunicação da cidade. São dois blocos diários com 10 minutos de duração nas rádios locais durante 35 dias, totalizando 70 programas.
Dionisio disse que vai aproveitar a exposição para conversar com a população. “Faço questão [da campanha] para me aproximar da comunidade”.
Ele deve aproveitar o momento para explicar suas propostas –seu principal objetivo é obter recursos federais para o município. “Em uma cidade que só tem um candidato, a tua pessoa tem que ser muito bem aceita [pela população]”, comenta Dionisio, que diz acreditar que terá mais de 80% dos votos na eleição.
Análise
Para a professora de Ciência Política da Unesp Maria Teresa Kerbauy, a falta de opções é ruim para o eleitor. “Não tem escolha. Ou vota, ou anula ou não comparece no dia da eleição. Para o eleitor e para a sociedade, isso não é interessante”, afirma.
Fonte: Uol.com.br
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